O corpo tem sido um dos temas que mais figuram na mídia. Revistas inteiramente dedicadas ao corpo e inúmeras reportagens sobre o assunto nos mais diversos segmentos da informação colocam em evidência essa obsessão contemporânea pelo próprio corpo.
O arsenal produzido para exaltar as propostas dirigidas ao corpo - musculação, alongamento, ginástica, procedimentos cirúrgicos, dietas recomendadas por personagens famosos, entre outros - subverte o hábito saudável que envolve os cuidados voltados para a recuperação da vitalidade e enaltece a construção em série de corpos para exibição.
Essa, talvez, seja a síntese do significado do corpo na atualidade: um corpo para exibição. E é nesse sentido que se observa a distância desse corpo voltado para o prazer de se exibir com a potencialidade que tem o corpo para ser uma fonte de prazer e de emoção.
Construir um corpo "em forma para o outro" é colocar-se como mercadoria para apreciação e distanciar-se de todos os sinais de emoção e prazer que o corpo emite - e que só se percebe quando atento para esses sinais. O corpo capta os acontecimentos que cercam a vida da pessoa, antes muitas vezes que a mente o faça, e pode ser o primeiro a responder também aos estímulos percebidos.
As sensações que o corpo experimenta diante de uma rotina - as de peso ou de leveza, as de bem-estar ou de desconforto - são pistas que indicam o estado geral da pessoa. Assim como o corpo todo tem capacidade erógena (que causa excitação sexual) e pode responder com prazer aos estímulos sensuais, também pode abrigar mágoas, traumas e preconceitos que o tornem adormecido ou refratário às mais variadas formas de estimulação.
Mesmo quando a primazia do corpo impera sob todas as coisas como é tão visível no nosso contexto social atual. Isso revela que a autonomia do corpo e a descoberta de que este está repleto de caminhos para o prazer e emoções encontra-se mais dependente de uma ética de vida pessoal - que permite a integração de bem-estar, amor e respeito mútuo - do que dos padrões de permissividade, advindos de um determinado momento histórico, que circunscreve a experiência humana.
Sob este ângulo, pode-se ajustar a expressão dos sentimentos sexuais à diversidade de sentimentos que envolvem as mais variadas formas de comunicação não-verbal. Beijar, abraçar, trocar carícias, explorar o corpo como um território repleto de infindáveis surpresas podem enriquecer a experiência de prazer à dois e mostrar que sexo também é carinho no corpo todo.
Quanto aos adeptos dos cuidados voltados para o próprio corpo, acima de qualquer coisa, como mercadoria para exibição, o prazer tende a se concentrar no próprio umbigo e o diálogo tende a se estender até o limite dos espelhos. E as relações amorosas nestes casos? São passageiras, posto que apenas para distrair, para melhorar o ibope ou às vezes até atrapalham. E o corpo, como fica? Se virou mercadoria, desumanizou. Que pena! Poderia ser um corpo bem cuidado, bem tratado, vaidoso, curioso, tagarela, que soubesse dialogar com outros corpos e não apenas com o seu próprio corpo.
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