"O amor, o conhecimento e o trabalho, são fontes de nossas vidas. Deveriam também governá-los". - Wilhelm Reich







terça-feira, 30 de março de 2010

O Corpo Político: Sexualidade E Corporalidade Em "A Função Do Orgasmo" De Wilhelm Reich



A corporalidade e a sexualidade são fatores decisivos na construção da identidade pessoal, e de certa forma, do equilíbrio emocional. O corpo sente, pensa e expressa. A sexualidade também é uma forma de expressão corporal, afetando o ser humano intimamente, de forma tanto positiva como negativa. É altamente dependente de crenças e valores inseridos pela sociedade em que vivemos.
Ao abordar sexualidade e corporalidade é imprescindível falar de Wilhelm Reich. Um homem à frente de sua época, muitas vezes incompreendido, o médico e pesquisador austríaco via mente e corpo como uma unidade.

Iniciamos este artigo com referencias a sua introdução ao livro "A função do orgasmo - Problemas econômico-sexuais da energia biológica", publicado pela primeira vez em 1942.

Reich afirmou que abordar o tema "sexualidade" poderia soar ofensivo para a sociedade da época. Décadas se passaram, o discurso parece ter mudado, mas será que na prática realmente mudou? Falar sobre a sua sexualidade causa constrangimento?
Ao abordar esse tema, segundo Reich, principalmente quando nos referimos ao orgasmo sexual, deparamo-nos com questões derivadas no campo da psicologia, fisiologia, biologia e até da sociologia.
Reich afirma também que a "natureza e cultura, instinto e moralidade, sexualidade e realização tornam-se incompatíveis, como resultado da cisão na estrutura humana". O Homem só se libertaria quando vivenciasse a exigência biológica da satisfação sexual natural, ou seja, quando vivesse plenamente sua sexualidade e sua potencialidade orgástica.
A estrutura do caráter do homem moderno é reflexo de uma cultura patriarcal autoritária caracterizada por um "encouraçamento" do caráter contra sua própria natureza interior e contra a miséria social que o rodeia. "A formação das massas no sentido de serem cegamente obedientes à autoridade se deve não ao amor paternal, mas à autoridade da família. A supressão da sexualidade nas crianças pequenas e nos adolescentes é a principal maneira de conseguir essa obediência" (Reich, 1991).
Reich afirma que a saúde psíquica está intimamente ligada com a capacidade do indivíduo sentir prazer e ter um orgasmo satisfatório. Para ele as incapacidades psíquicas são a conseqüência do caos sexual da sociedade.
O ser humano manifesta o que sente através da sua corporalidade. Seja através do olhar, da forma de ouvir, do falar, enfim em todos os gestos exprimimos os nossos sentimentos, isto é, são expressões corporais do nosso estado de espírito.

"No campo da psicoterapia, desenvolvi a técnica vegetoterápica de análise do caráter. Seu principio básico é o restabelecimento da motilidade biopsíquica através da anulação da rigidez (encouraçamento) do caráter e da musculatura. Essa técnica de tratamento de neuroses foi experimentalmente confirmada pela descoberta da natureza bioelétrica da sexualidade e da angústia. Sexualidade e angústia são funções do organismo vivo que operam em direções opostas: expansão agradável e contração angustiante" (Reich, 1991).

Entre outras palavras, terapia corporal, relaxamento de tensões corporais, proporcionando melhores condições para viver plenamente sua sexualidade, facilitando, no ato sexual, o orgasmo e liberação total destas tensões, melhoram muito a qualidade de vida do ser humano.
A teoria de Reich se fundamenta em libertar o corpo e a mente, criar condições para que o organismo possa se expressar livremente. Esta é uma grande declaração de amor do corpo para a natureza, e que deve nortear nossos princípios de entender a vida do ser humano (Afonso, 2007).
O autor afirma ainda que podemos entender todo o processo das couraças como uma grande dificuldade de amar, porque o amor é uma qualidade de ser, é uma questão de estar aberto para se expressar e para acolher, e isto implica estar em contato com os próprios sentimentos. O indivíduo que não pode compreender seus próprios sentimentos tem uma dificuldade muito grande de amar e de se entregar.
Reich tinha uma idéia cientificamente racional e bem definida da vida social. Baseava esta idéia em sua crença que "nossa terra jamais encontrará paz duradoura e procurará em vão satisfazer a prática da organização social, enquanto políticos e ditadores de qualquer partido, ignorantes e ingênuos, continuarem a corromper e a liderar massas populares sexualmente doentes" (Reich, 1991)

Reich afirma que a 'moralidade' é ditatorial quando confunde com pornografia os sentimentos naturais da vida. Uma revista que fala sobre sexualidade é imoral? Qual o entendimento sobre sexualidade no grande público da internet brasileira?

Bibliografia
Reich, Wilhelm. A função do orgasmo - Problemas econômico-sexuais da energia biológica. São Paulo: Círculo do Livro, 1991.
Afonso, Rubens. Escuta, Zé ninguém! e o poder do amor. Curitiba: Centro Reichiano, 2005.
Disponível em: www.centroreichiano.com.br. Acesso em: 15/03/2010

domingo, 28 de março de 2010

A afetividade entre mãe-bebê, a construção da realidade psicológica da criança e as consequências da ausência afetiva maternal da entrada das crianças nos Infantários (creches)

Foto Tirada por Stephan A. Schmidt, o Pai.
Imagem: Lilian Aldeia e Anika (carnaval 2010)

O nascimento da vida psíquica num bebê começa na relação que é estabelecida com a mãe.
De acordo com o pediatra Inglês – Winnicott – os cuidados maternos adequados são indissociáveis do bebê e garantia de uma boa saúde mental. Segundo ele, um lactente isolado não existe: quando encontramos uma criança, encontramos cuidados maternos. Acrescenta, por outro lado, que o rosto da mãe é o primeiro e único verdadeiro espelho da criança.
A relação mãe-bebê está correlacionada com o processo de maturação da criança. As primeiras experiências intersubjetivas desenvolvem-se num banho de afetos, (S. LEBOVICI, 1983).
A mãe comunica os seus afetos interpretando as necessidades e desejos do bebê. Para isto, ela utiliza as suas capacidades de empatia, que lhe permitem perceber os estados afectivos do bebê.
Segundo B. Brazelton, o que caracteriza a interação típica entre uma mãe e o seu bebê é a sua natureza cíclica, com a alternância de períodos durante os quais a criança fixa intensamente o rosto da mãe e períodos em que o evita, fechando os olhos ou desviando-os ligeiramente.

Winnicott distingue três séries de atos nos cuidados que a mãe prodigaliza à criança:
1.O Holding que corresponde ao amparo da criança pela mãe, ela suporta-o, assegura-lhe um continente corporal graças ao seu próprio corpo dela no espaço.

2.O Handling reenvia para os cuidados e manipulações da criança pela mãe, que ao faze-lo, lhe proporciona sensações tácteis, cinestésicas, auditivas e visuais.

3.O Object-presenting corresponde ao modo de apresentação do objeto; assim através da mãe, a criança tem acesso aos objetos simples, depois a objectos progressivamente mais complexos e finalmente à sua dimensão.

A mãe partilha com a criança pequena um pedaço do mundo à parte mantendo-o suficientemente limitado para que a criança não fique confusa e aumentando-o muito progressivamente de forma a satisfazer a capacidade crescente da criança fruir do mundo, (Winnicott, 1957).
A relação de objeto da criança com a mãe, objecto de Amor, define a afetividade relacional. Há ainda um enquadramento dessa afetividade num estado afetivo geral, que pode ser alegre ou triste, tranquilo ou ansioso, agitado ou instável.
A criança aprende a conhecer o ambiente e o seu conteúdo através da interacção dinâmica com a mãe.
No início assiste-se a uma díade relacional e posteriormente com a introdução do pai, uma tríade relacional de afetos, cada um com a sua função na construção psico-emocional da criança.
Diria que a relação objetal com mãe será a plataforma psíquica na qual a criança constrói a sua identidade social.
Se existirem bons alicerces, esta construção será harmoniosa e estável, se não for bem conseguida, a construção citada, a criança pode porventura apresentar alguns problemas psicológicos e muitas vezes problemas psicossomáticos.
A criança começa a percepcionar a Vida através da primeira relação social que é com a mãe.
Brazelton observou que o lactente é capaz de antecipar uma inter-relação social e que, quando as suas tentativas não são satisfatórias, ele utiliza uma diversidade de técnicas para tentar implicar a sua mãe.
Margaret Malher, que ao estudar a cria do Homem durante o seu desenvolvimento e na sua interacção com a mãe, esta propõe a teoria da existência de um processo de separação/individuação que conduz a criança a uma representação de si própria clara e distinta e posto isto, a uma autonomização da vida psíquica.
Existe unanimidade entre todos os autores que estudam o Desenvolvimento da criança, que a interação mãe-bebê é crucial pois determina o aparecimento e o início da vida psíquica e permite à criança uma construção de estrutura mental e emocional.
No entanto, acontece que na atualidade assiste-se a uma “despersonalização maternal” do vínculo afetivo entre mãe-bebê, dado que é prática comum e social, as mães terem que colocar os seus bebês, geralmente por volta dos 4 meses quando acaba a licença de parto, em creches e infantários, para que esta possa trabalhar.
Será que os serviços materno-infantis existentes cumprem a sua função de as crianças terem necessidade de se relacionar com pessoas privilegiadas e afetivamente disponíveis?
É uma questão pertinente que nos leva a uma atitude reflexiva acerca desta problemática.

Concluindo e citando João dos Santos:
“Não quero negar a necessidade de creches, mas penso que para que se promova um desenvolvimento psicomotor, afetivo e intelectual favorável é necessário preservar a criança das perturbações que resultam de uma relação perturbada com a mãe ou com a Instituição que o recolhe durante as horas de trabalho da mãe.
Porem, a idéia hoje divulgada é a que existência do infantário resolve todos os problemas da criança.
Nunca em nenhuma sociedade os problemas do bebê puderam ser separados do problema da mãe e da criança.
A função maternal pode ser exercida pela creche, se o seu pessoal for composto de pessoas autênticas, integradas por técnicos com formação profissional adequada.
Um técnico vale mais por aquilo que é, do que por aquilo que sabe (S. Nacht).
É também verdade para todos os técnicos que trabalham com pessoas, quer elas sejam crianças ou adultos, mas hoje o que faz com o pessoal é mais para valorizar o que eles sabem do que o que eles são.
Finalizando, para que uma creche possa exercer a sua função maternal, é necessário que ela se alimente e viva de uma forte participação das mães…”

Bibliografia consultada:
Benony, Hervé., O desenvolvimento da criança e as suas psicopatologias, Climepsi Editores
Boubli, Myriam., Psicopatologia da criança, Climepsi Editores
Branco, M.E.C., Vida, Pensamento e Obra de João dos Santos, Livros Horizonte: Lisboa
Gueniche, K., Psicopatologia descritiva e interpretativa da criança, Climepsi Editores





segunda-feira, 22 de março de 2010

História do Casamento




Em 392, o cristianismo foi proclamado religião oficial. Entre 965 e 1008 eram batizados os reis da Dinamarca, Polônia, Hungria, Rússia, Noruega e Suécia.

Desses dois fatos resultou o formato do casamento, em princípios do ano 1000, com uma face totalmente nova. Durante o Sacro Império Romano Germânico - que sucedeu ao desaparecido Império Romano -, dirigido por Oto III de 998 a 1002, houve uma fabulosa transformação das sociedades urbanas romanas e das sociedades rurais germânicas e eslavas. As uniões entre homens e mulheres eram, então, o resultado complexo de renitências pagãs, de interesses políticos e de uma poderosa evangelização.
"Amor: desejo que tudo tenta monopolizar; caridade: terna unidade; ódio: desprezo pelas vaidades deste mundo." Esse breve exercício escolar, escrito no dorso de um manuscrito do início do século XI, exprime bem o conflito entre as concepções pagã e cristã do casamento. Para os pagãos, fossem eles germânicos, eslavos ou ainda mais recentemente vikings instalados na Normandia desde 911, o amor era visto como subversivo, como destruidor da sociedade. Para os cristãos, como o bispo e escritor Jonas de Orléans, o termo caridade exprimia, com o qualificativo "conjugal", um amor privilegiado e de ternura no interior da célula conjugal. Esse otimismo aparecia em determinados decretos pontificais, por meio de termos como afeto marital (maritalis affectio) ou amor conjugal (dilectio conjugalis). Evidentemente, o ideal cristão era abrir mão dos bens deste mundo desprezando-os, o que constituía um convite ao celibato convencional.
A Europa pagã, mal batizada no ano 1000, apresentava, portanto uma concepção do casamento totalmente contrária à dos cristãos. O exemplo da Normandia é ainda mais revelador, por ser muito semelhante ao da Suécia ou da Boêmia. Os vikings praticavam um casamento poligâmico, com uma esposa de primeiro escalão que tinha todos os direitos, e com esposas ou concubinas de segundo escalão, cujos filhos não tinham nenhum direito, a menos que a oficial fosse estéril, ou tivesse sido repudiada. As cerimônias de noivado organizavam a transmissão de bens, mas não havia casamento verdadeiro a não ser que tivesse havido união carnal. Na manhã da noite de núpcias, o esposo oferecia à mulher um conjunto muitas vezes bastante significativo de bens móveis. Ele era chamado de presente matinal (Morgengabe), que os juristas romanos batizaram de dote. Portanto, o papel da esposa oficial era bem importante, sobretudo se ela tivesse muitos filhos, já que o objetivo principal era a procriação.
Essas uniões eram essencialmente políticas e sociais, decididas pelos pais. Tratava-se de constituir unidades familiares amplas, no interior das quais reinasse a paz. Por isso, as concubinas de segundo escalão eram chamadas de Friedlehen ou Frilla, ou seja, "cauções de paz". Na verdade, elas vinham de famílias hostis de longa data. A partir do momento em que o sangue de ambas as famílias se misturava, a guerra já não era mais possível. Assim, as mães escolhiam as esposas dos filhos, ou os maridos, das filhas, sempre nos mesmos grupos clássicos, a fim de salvaguardar essa paz. Se uma esposa morresse, o viúvo se casaria com a irmã dela. Dessa forma, pouco a pouco as grandes famílias tornavam-se cada vez mais chegadas por laços de sangue (consangüinidade), pela aliança (afinidade) e, finalmente, completamente incestuosas. Acrescentemos a esse quadro as ligações entre os homens, a adoção pelas armas, o juramento de fidelidade e outras ligações feudais que triunfaram no século X como um verdadeiro "parentesco suplementar", segundo a expressão de Marc Bloch, e teremos a prova de que esses casamentos pagãos não deixavam nenhum espaço livre para o sentimento.

Amor subversivo

Assim, quando o amor se manifestava, ele só podia ser adúltero, ou assumir a forma de um estupro, maneira de tornar o casamento irreversível, ou de um rapto mais ou menos combinado entre o raptor e a "raptada", a fim de ludibriar a vontade dos pais. Nesses casos o amor era efetivamente subversivo, uma vez que destruía a ordem estabelecida. Ele se tornava sinônimo de morte e de ruína política, como prova o romance, de fundo histórico verdadeiro, Tristão e Isolda, transmitido oralmente pelo mundo europeu de então - celta, franco e germânico. Tristão, sobrinho do rei e seu vassalo cometeu ao mesmo tempo incesto, adultério e traição para com o rei Marco, o marido de Isolda. Aliás, ele mesmo diz, após seu primeiro encontro: "Que venha a morte". Nas sociedades antigas, obcecadas pela sobrevida, a vontade de potência, de poder, era mais importante do que a vontade de prazer, pois aquelas tribos de imensas famílias não conheciam nenhuma limitação administrativa ou externa.
Esse quadro deve ter sido abrandado pelo fato de eles terem estado em contato com países cristãos, ou povos de regiões mergulhadas no cristianismo, como por exemplo, os normandos batizados do século X. Em decorrência, duas estruturas coexistiam, mais ou menos confundidas. Por volta do ano 1000, o bispo da Islândia teve muita dificuldade para separar um chefe de tribo, já casado, de sua concubina, especialmente porque ela era sua própria irmã - fato que sustentava a opinião de que seu irmão, o bispo, não passava de um tirano. Nos séculos X e XI, os duques da Normandia tinham dois tipos de união, regularmente: uma esposa oficial, franca e batizada, e uma ou várias concubinas.
Guilherme, o Conquistador, que tomou a Inglaterra em 1066, tinha o codinome de bastardo, por ter nascido de uma união desse tipo. À entrada de Falésia, seu pai, Roberto, o Demônio, teve a atenção chamada por uma jovem que, no lavadouro da cidade, calcava a roupa com os pés, nua como suas companheiras de tarefa, para melhor sovar a roupa. Naquela mesma noite, com a autorização de seu pai, Arlette, a jovem, se viu no quarto do duque, usando uma camisola aberta na frente, "a fim de que", nos diz o monge Wace, que contou a história, "aquilo que varre o chão não possa estar à altura do rosto de seu príncipe". Esses amores "à dinamarquesa" demonstram que as mulheres eram livres, com a condição de aceitar uma posição secundária.
Essa duplicidade de situação num mundo ocidental oficialmente cristão, mas ainda pagão, complicou-se quando as mulheres conquistaram poder, algo facilitado pela matrilinearidade das origens germânicas. Algumas incentivavam os maridos a se proclamarem reis, por serem elas de origem imperial carolíngia. Castelãs, senhoras de grandes propriedades, ou mulheres de alta nobreza, elas utilizavam o casamento como trampolim para sua ambição. Em Roma, Marozia (ou Mariuccia) foi mãe do papa João XI, filho de sua ligação com o também papa Sérgio III. Viúva do primeiro marido, Guido da Toscana, meio-irmão do rei da Itália, Hugo, ela convidou este a se casar com ela. Mas Alberico II, seu filho do primeiro casamento, expulsou do castelo de Santo Ângelo onde foram celebradas as núpcias, aquele intruso manipulado por sua mãe.

Punição para a libido

Aos olhos de inúmeros escritores eclesiásticos, como o bispo Ratherius de Verona, a libido feminina era perigosa e devia ser reprimida severamente. O fato de que velhos países como a Espanha, a Itália e o reino dos Francos, embora cristãos havia já cinco séculos, não tivessem ainda integrado a doutrina do casamento - a ponto, por exemplo, de o rei Hugo ter tido duas esposas oficiais e três concubinas - prova o quanto essa doutrina estava na contramão de seu tempo. E, contudo ela fora claramente afirmada e repetida desde que Ambrósio declarara em 390 que "o consentimento faz as bodas". A isso, o Concílio de Ver acrescentara, em 755: "Que todas as bodas sejam públicas" e "Uma única lei para os homens e mulheres".
Reclamar a liberdade do consentimento dos esposos e a condição de igualdade do homem e da mulher era utópico, sobretudo numa sociedade romana patriarcal. Todavia, progressos importantes ocorreram no século X, graças à repetição da apologia do casamento, símbolo da união indissolúvel entre Cristo e a Igreja. Após a atitude irredutível do arcebispo Hincmar e do papa Nicolau I, o divórcio de Lotário II por repúdio a sua esposa Teutberga - devido a sua esterilidade - tornou-se impossível após 869, ano de sua morte. Incompreensível para os contemporâneos, o casamento não se baseava somente na procriação. A aliança era mais importante do que um filho. Mais do que ninguém, longe dos discursos sobre a superioridade da virgindade, Hincmar havia demonstrado que um consentimento livre sem união carnal consecutiva não era um casamento. Ele prefigurava assim a noção de nulidade instituída pelo decreto de Graciano, em 1145. Em decorrência, os rituais, como escreveu Burchard de Worms por volta do ano 1000, traduziam no nível da disciplina do casamento a doutrina otimista dos moralistas carolíngios.
A união carnal, conseqüência do consentimento entre um homem e uma mulher (e não várias), é o espaço de santificação dos esposos. O ideal de monogamia, de fidelidade e de indissolubilidade tornou-se tanto mais possível porque no final do século X desapareceu a escravidão de tipo antigo, nos países mediterrâneos. Um novo espaço se abria para o casamento cristão, graças ao surgimento do concubinato com as escravas, que não tinham nenhuma liberdade. Essa foi também a época em que as determinações dos concílios tornaram obrigatória a validade do casamento dos não libertos.
Mas um outro combate chegava a seu ponto culminante no ano 1000: a proibição do incesto. Iniciada a partir do século VI e quase bem-sucedida na Itália, na Espanha e na França, essa interdição enfrentou, contudo forte oposição na Germânia, na Boêmia e na Polônia. Proibidos em princípio até o quarto grau entre primos irmãos, os casamentos de consangüinidade e de afinidade foram punidos, e os culpados separados. Mais tarde, a partir de Gregório II (715-735), a proibição foi estendida ao sétimo grau (sobrinhos à moda da Bretanha), assim como aos parentes espirituais (padrinho e madrinha): não haveria mais aliança a não ser com estranhos, com quem fosse outro (Deus ou o próximo de sexo diferente), mas de modo algum com aquele ou aquela com quem já existisse um tipo de ligação.
As conseqüências sociais de tal doutrina foram incalculáveis. Ela obrigou cada um a procurar um cônjuge longe de sua aldeia e de seu castelo. Acabou por destruir as grandes famílias, de dezenas de pessoas, que viviam sob o mesmo teto, e por favorecer a formação de um grupo nuclear, do tipo conjugal. Ela suprimiu, assim, as sucessões matrilineares e a escolha dos esposos pelas mulheres. A exogamia tornou-se obrigatória. A Europa se abriria para o exterior.

Elogio da virgindade

Na Alemanha, desde os concílios de Mogúncia, em 813, e de Worms, em 868, os casos de casamentos incestuosos mantidos pela obstinação das mulheres eram numerosos. Na Boêmia, o segundo bispo de Praga, Adalberto, grande amigo do imperador Oto III, havia conseguido, em 992, um edito público que o autorizava a julgar e separar os casais incestuosos. Foi um insucesso tão retumbante que ele se desgostou para sempre de sua tarefa episcopal. Preferiu ir evangelizar os prussianos, que o martirizaram em 23 de abril de 997.
A dinastia dos Oto, que havia restaurado o império em 962 na Alemanha e na Itália, nem por isso deixou de apoiar a Igreja em sua empresa de transformação e cristianização. E suas esposas deram o exemplo, já que Edite (946), Matilde (968) e Adelaide (999) foram consideradas santas. Os clérigos que relataram suas vidas, em particular a de Matilde, insistem não na viuvez ou nos atos de fundação de mosteiros, mas sim no papel de esposa e mãe. Sua santidade provinha essencialmente do casamento e do papel de conselheira, junto a seu imperial esposo. A leitura dos ofícios de passagens da vida de santa Matilde não teve uma influência desprezível sobre as audiências populares.
Se a Alemanha foi então uma frente pioneira na cristianização do casamento, não foi bem esse o caso do reino dos francos. Ema, esposa traída do duque da Aquitânia, Guilherme V, vingou-se de sua rival mandando que ela fosse violada por toda sua guarda pessoal. Berta, filha do rei da Borgonha, mal tendo enviuvado, pousou seu olhar sobre o jovem Roberto, filho de Hugo Capeto, para fazer um casamento hipergâmico.
Esse exemplo é revelador. A legislação da Igreja acerca do casamento cristão ia de encontro à mentalidade da época. E, no entanto o amor conjugal de caridade (dilectio caritatis) começava a sobressair ao amor de posse (libido dominandi). Por volta do ano 1000, a expansão urbana e o início do desbravamento e da cultura dos campos permitiram que a família nuclear monogâmica se multiplicasse. As células rurais foram destruídas pela necessidade de ir buscar um cônjuge mais longe. Somente a nobreza e as famílias reinantes mais antigas resistiram, fechadas em suas relações feudais, ao contrário dos recém-chegados ao poder, os Oto, que acolheram e adotaram a doutrina cristã como uma liberação e se lançaram com ousadia na direção do leste, para além do rio Elba, a nova fronteira da expansão européia.
Dessa forma, da concepção do amor como subversivo e criador de morte passamos à de um amor construtivo, promotor de vida. O desejo foi integrado no casamento com a união carnal, espaço de gozo mútuo. A procriação tornou-se um bem do casamento, entre outros. A poligamia desapareceu. A publicidade do casamento se instalou. As proibições de incesto permitiram que se descobrisse a necessidade de alteridade e a afirmação da diferença sexual como força de construção. Esse momento de otimismo e de vitória sobre o amor de morte pagão, à moda de Tristão, explica o elã prodigioso da Europa no início do ano 1000. Mas ele não iria além do final do século XI. Também por volta do ano 1000, as diatribes de São Pedro Damião e Ratherius de Verona contra o casamento dos padres anunciavam um outro combate que terminaria na reforma gregoriana e no triunfo do celibato convencional.
Em conseqüência, o elogio da virgindade passou a ser mais e mais preponderante, a ponto de fazer triunfar uma visão pessimista do casamento. Tanto isso é verdade que a história do casamento cristão é feita de alternâncias entre sucessos e crises.



quarta-feira, 17 de março de 2010

Recomendação Cinematográfica.

 
Foto Acima: Cinema São Luiz, Largo do Machado, RJ. Hoje, está localizado o Shopping Avenida Central, o famoso Shopping da Informática.
 
Esta semana é uma daquelas em que a chuva não está muito afim de dar trégua. Portanto, decidi indicar alguns filmes que possam ser apreciados com interesse.
 
Divirtam-se!
 
1.A Casa dos Espíritos
2. A Espera de um Milagre
3. A Primeira Vista
4. A Vida é Bela
5. A Vida em Preto e Branco
6. Advogado do Diabo
7. Amor além da Vida
8. As Pontes de Madison
9. Beleza Americana
10. Carteiro e o Poeta
11. Cidade dos Anjos
12. Cinema Paradiso
13. Colcha de Retalhos
14. Contato
15. Como Ser Solteiro
16. D. Juan de Marco
17. Em Nome de Deus - Abelardo e Heloísa
18. Encontro Marcado
19. Feitiço de Áquila
20. Fim de Caso
21. Gandhi
22. Intersection - uma escolha uma renúncia
23. Ligações Perigosas
24. Lua de Fel
25. Melhor é Impossível.
26. O Piano
27. Os Miseráveis
28. Paciente Inglês
29. Patch Adams - O amor é contagioso
30. Pequeno Dicionário Amoroso
31. Perdas e Danos
32. Perfume de Mulher
33. Pink Floyd - The Wall
34. Preço de uma Escolha
35. Razão e Sensibilidade
36. Seven - Os sete pecados capitais
37. Show de Truman
38. Sociedade dos Poetas Mortos
39. Gênio Indomável
40. Um Sonho de Liberdade
41. Uma Carta de Amor - Mensagem na Garrafa.
42. Uma Estranha Entre Nós

Filmes recomendados II.


1. O Homem sem Sombra.
2. Corpo em Evidência.
3. Segundas Intenções.
4. Vamos Nessa!
5. 200 cigarros.
6. O Povo contra Larry Flynt.
7. Um Homem de Família.
8. História de Nós Dois.
9. A Lua dos Amantes.
10. Beijos que Matam.
11. Procura-se Amy
12. Um Toque Perigoso.
13. A Cor da Noite.
14. Corpos Ardentes.
15. A Morte e a Donzela.
16. A Primeira Noite de um Homem.
17. A Outra Face.
18. Instinto.
19. Instinto Selvagem.
20. Vidas Cruzadas.
21. Sonhos Destruídos.
22. Kids.
23. Transpoorting.
24. A Ira de um Anjo.
25. Quando a Amizade Mata.
26. O Segredo de Kate.
27. Um bonde Chamado Desejo.
28. O Senhor das Armas
29. Monster

Filmes Recomendados na Terapia Reichiana.


1. Garrota Interrompida.
2. Depois de Horas.
3. Sem Medo de Viver.
4. O Fenômeno.
5. Dança Comigo.
6. Viagens Alucinantes.
7. De Olhos Bem Fechados.
8. Amnésia
9. Caráter.
10. As Virgens Suicidas.
11. Transamérica.

segunda-feira, 15 de março de 2010

“A Guerra do Fogo”.


Ano: 1981.
Produção: Francesa e Canadense.
Direção: Jean-Jaques Annaud.

 
Primeiramente, ao que posso observar que a vida pré-histórica através da descoberta do fogo, ao qual foi criada diante deste símbolo. Para os povos, seria uma questão de poder e início de uma verdadeira vida.

De acordo com o filme, observo que os povos primitivos como estes, não diferem muito da vida atual, em um ponto de vista abrangente, como por exemplo:

 O Social: vivendo em grupos de uma mesma casta.

 Segurança: protegendo seu espaço territorial de invasores de outra casta.

 Religioso: idolatrar e cuidar de algo valioso (no caso seria o fogo).

 Sexual: promiscuidade, ingenuidade, inexistência de culpa e/ou sentimentos. O modo de como homens e mulheres conviviam.

A partir do momento em que a criação de um possível progresso para eles e, logo de contra partida esta perda de progresso de vida (fogo), inicia-se então a rivalidade dos povos e entre si (a rivalidade já existia e o desejo de posse também).

Neste momento, a guerra pode simbolizar uma possível recuperação do que foi perdido. Não somente isso como também outros que, durante a guerra foram levados pelos invasores (mulheres).

Passar por obstáculos, limites territoriais de outros seres que habitam no mesmo tempo e espaço. Fora que a partir do instante em que as situações tendem a piorar, discussões entre os próprios integrantes começa a existir com freqüência. Também a escassez de alimentos, torna-se difícil.

Não é muito diferente do tempo em que vivemos atualmente.

Em questão maior, voltada para o sexo daquele tempo, onde tudo girava em torno do nada (sem preocupações, promiscuo, indiferente e inexistente de sentimentos).

Como é visto no filme, o que podemos dizer que o primeiro sexo oral, não foi de forma alguma ligado diretamente à relação sexual, mas como uma forma de cura.

A partir de um certo instante na história, começa a ser entendido a questão de união entre seres de sexos diferentes e de castas também. A escolha de parceiros e saber dirscenir o que é e o que não é posse, os laços afetivos, a separação destes laços, a perda do ser desejado, a comunicação amorosa (gestos, risos) e um ponto interessante na história é a questão da falta (saudade do outro). Começa a existir o sexo como rotina, a troca de posições, os jogos sexuais, o erotismo começa a aflorar e também começa a existir a criação de família.

Outro ponto além da sexualidade, também pode observar um grupo que descobre outro, porém mais evoluídos na criação de armas, cerâmica, cabanas etc.

Voltando a ação do sexo, a partir do instante em que há o encontro de ambos “amados”, por ela ser de outra casta, existe uma troca de olhares a distância, por ele estar em um território em que como a casta é de uma mesma linhagem a questão do chefe desta é fazer com que este homem forte reproduza com outras mulheres desta casta para a mudança de sangue.

São questões de adaptação ao meio social, ambiente natural e por serem povos evoluídos, o que valoriza mais o poder do saber e não da força, como o caso da casta dela que já sabia fazer fogo e tinha como criar suas novas forma de melhora social.

sábado, 13 de março de 2010

Transtorno Bipolar de Humor


Sinônimos e nomes relacionados:


Psicose maníaco-depressiva, transtorno ou doença afetivo bipolar, incluindo tipos específicos de doenças ou transtornos do humor, como ciclotimia, hipomania e transtorno misto do humor.

O que é a doença bipolar do humor:

O Transtorno Bipolar do Humor, antigamente denominado de psicose maníaco-depressiva, é caracterizado por oscilações ou mudanças cíclicas de humor. Estas mudanças vão desde oscilações normais, como nos estados de alegria e tristeza, até mudanças patológicas acentuadas e diferentes do normal, como episódios de MANIA, HIPOMANIA, DEPRESSÃO e MISTOS. É uma doença de grande impacto na vida do paciente, de sua família e sociedade, causando prejuízos freqüentemente irreparáveis em vários setores da vida do indivíduo, como nas finanças, saúde, reputação, além do sofrimento psicológico. É relativamente comum, acometendo aproximadamente 8 a cada 100 indivíduos, manifestando-se igualmente em mulheres e homens.

O que causa a doença bipolar do humor:

A base da causa para a doença bipolar do humor não é inteiramente conhecida, assim como não o é para os demais distúrbios do humor. Sabe-se que os fatores biológicos (relativos a neurotransmissores cerebrais), genéticos, sociais e psicológicos somam-se no desencadeamento da doença. Em geral, os fatores genéticos e biológicos podem determinar como o indivíduo reage aos estressores psicológicos e sociais, mantendo a normalidade ou desencadeando doença. O transtorno bipolar do humor tem uma importante característica genética, de modo que a tendência familiar à doença pode ser observada.

Como se manifesta a doença bipolar do humor:

Pode iniciar na infância, geralmente com sintomas como irritabilidade intensa, impulsividade e aparentes “tempestades afetivas”. Um terço dos indivíduos manifestará a doença na adolescência e quase dois terços, até os 19 anos de idade, com muitos casos de mulheres podendo ter início entre os 45 e 50 anos. Raramente começa acima dos 50 anos, e quando isso acontece, é importante investigar outras causas. A mania (eufórica) é caracterizada por:

Humor excessivamente animado, exaltado, eufórico, alegria exagerada e duradoura;

Extrema irritabilidade, impaciência ou “pavio muito curto”;

Agitação, inquietação física e mental;

Aumento de energia, da atividade, começando muitas coisas ao mesmo tempo sem conseguir terminá-las

Otimismo e confiança exageradas;

Pouca capacidade de julgamento, incapacidade de discernir;

Crenças irreais sobre as próprias capacidades ou poderes, acreditando possuir muitos dons ou poderes especiais;
Idéias grandiosas;

Pensamentos acelerados, fala muito rápida, pulando de uma idéia para outra,tagarelice;
Facilidade em se distrair, incapacidade de se concentrar;

Comportamento inadequado, provocador, intrometido, agressivo ou de risco;

Gastos excessivos;

Desinibição, aumento do contato social, expansividade;

Aumento do impulso sexual;
Agressividade física e/ou verbal;

Insônia e pouca necessidade de sono;

Uso de drogas, em especial cocaína, álcool e soníferos.

*** Três ou mais sintomas aqui relacionados devem estar presentes por, no mínimo, uma semana;

*** a hipomania é um estado de euforia mais leve que não compromete tanto a capacidade de funcionamento do paciente. Geralmente, passa despercebida por ser confundida com estados normais de alegria e devem durar no mínimo dois dias.
Humor melancólico, depressivo;

Perda de interesse ou prazer em atividades habitualmente interessantes;
Sentimentos de tristeza, vazio, ou aparência chorosa/melancólica;
Inquietação ou irritabilidade;
Perda ou aumento de apetite/peso, mesmo sem estar de dieta;
Excesso de sono ou incapacidade de dormir;
Sentir-se ou estar agitado demais ou excessivamente devagar (lentidão);

Fadiga ou perda de energia;
Sentimentos de falta de esperança, culpa excessiva ou pessimismo;
Dificuldade de concentração, de se lembrar das coisas ou de tomar decisões;
Pensamentos de morte ou suicídio, planejamento ou tentativas de suicídio;

Dores ou outros sintomas corporais persistentes, não provocados por doenças ou lesões físicas.

A DEPRESSÃO, que pode ser de intensidade leve, moderada ou grave, É CARACTERIZADA POR:

*** estes sintomas manifestam-se na maior parte do tempo por, pelo menos, DUAS semanas.

O estado misto é caracterizado por:

Sintomas depressivos e maníacos acentuados acontecendo simultaneamente;

A pessoa pode sentir-se deprimida pela manhã e progressivamente eufórica com o passar do dia, ou vice-versa;
Pode ainda apresentar-se agitada, acelerada e ao mesmo tempo queixar-se de angústia, desesperança e idéias de suicídio;

Os sintomas freqüentemente incluem agitação, insônia e alterações do apetite. Nos casos mais graves, podem haver sintomas psicóticos (alucinações e delírios) e pensamentos suicidas;

*** os sintomas devem estar presentes a maior parte dos dias por, no mínimo, uma semana.

De que outras formas a doença bipolar do humor pode se manifestar:

Existem três outras formas através das quais a doença bipolar do humor pode se manifestar, além de episódios bem definidos de mania e depressão.

Uma primeira forma seria a hipomania, em que também ocorre estado de humor elevado e expansivo, eufórico, mas de forma mais suave. Um episódio hipomaníaco, ao contrário da mania, não é suficientemente grave para causar prejuízo no trabalho ou nas relações sociais, nem para exigir a hospitalização da pessoa.

Uma segunda forma de apresentação da doença bipolar do humor seria a ocorrência de episódios mistos, quando em um mesmo dia haveria a alternância entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode chorar, ficar triste, sentindo-se sem valor e sem esperança, e no momento seguinte estar eufórica, sentindo-se capaz de tudo, ou irritada, falante e agressiva.

A terceira forma da doença bipolar do humor seria aquela conhecida como transtorno ciclotímico, ou apenas ciclotimia, em que haveria uma alteração crônica e flutuante do humor, marcada por numerosos períodos com sintomas maníacos e numerosos períodos com sintomas depressivos, que se alternariam. Tais sintomas depressivos e maníacos não seriam suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se ter certeza de se tratar de depressão e de mania, respectivamente. Seria, portanto, facilmente confundida com o jeito de ser da pessoa, marcada por instabilidade do humor.

Como se diagnostica a doença bipolar do humor:

O diagnóstico da doença bipolar do humor deve ser feito por um médico psiquiátrico baseado nos sintomas do paciente. Não há exames de imagem ou laboratoriais que auxiliem o diagnóstico. A dosagem de lítio no sangue só é feita para as pessoas que usam carbonato de lítio como tratamento medicamentoso, a fim de se acompanhar a resposta ao remédio.

Como se trata a doença bipolar do humor:

O tratamento, após o diagnóstico preciso, é medicamentoso, envolvendo uma classe de medicações chamada de estabilizadores do humor, da qual o carbonato de lítio é o mais estudado e o mais usado. A carbamazepina, a oxcarbazepina e o ácido valpróico também se mostram eficazes. Um acompanhamento psiquiátrico deve ser mantido por um longo período, sendo que algumas formas de psicoterapia podem colaborar para o tratamento.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Corpo e seus Prazeres



     O corpo tem sido um dos temas que mais figuram na mídia. Revistas inteiramente dedicadas ao corpo e inúmeras reportagens sobre o assunto nos mais diversos segmentos da informação colocam em evidência essa obsessão contemporânea pelo próprio corpo.
     O arsenal produzido para exaltar as propostas dirigidas ao corpo - musculação, alongamento, ginástica, procedimentos cirúrgicos, dietas recomendadas por personagens famosos, entre outros - subverte o hábito saudável que envolve os cuidados voltados para a recuperação da vitalidade e enaltece a construção em série de corpos para exibição.
     Essa, talvez, seja a síntese do significado do corpo na atualidade: um corpo para exibição. E é nesse sentido que se observa a distância desse corpo voltado para o prazer de se exibir com a potencialidade que tem o corpo para ser uma fonte de prazer e de emoção.
     Construir um corpo "em forma para o outro" é colocar-se como mercadoria para apreciação e distanciar-se de todos os sinais de emoção e prazer que o corpo emite - e que só se percebe quando atento para esses sinais. O corpo capta os acontecimentos que cercam a vida da pessoa, antes muitas vezes que a mente o faça, e pode ser o primeiro a responder também aos estímulos percebidos.
    As sensações que o corpo experimenta diante de uma rotina - as de peso ou de leveza, as de bem-estar ou de desconforto - são pistas que indicam o estado geral da pessoa. Assim como o corpo todo tem capacidade erógena (que causa excitação sexual) e pode responder com prazer aos estímulos sensuais, também pode abrigar mágoas, traumas e preconceitos que o tornem adormecido ou refratário às mais variadas formas de estimulação.
    Mesmo quando a primazia do corpo impera sob todas as coisas como é tão visível no nosso contexto social atual. Isso revela que a autonomia do corpo e a descoberta de que este está repleto de caminhos para o prazer e emoções encontra-se mais dependente de uma ética de vida pessoal - que permite a integração de bem-estar, amor e respeito mútuo - do que dos padrões de permissividade, advindos de um determinado momento histórico, que circunscreve a experiência humana.
    Sob este ângulo, pode-se ajustar a expressão dos sentimentos sexuais à diversidade de sentimentos que envolvem as mais variadas formas de comunicação não-verbal. Beijar, abraçar, trocar carícias, explorar o corpo como um território repleto de infindáveis surpresas podem enriquecer a experiência de prazer à dois e mostrar que sexo também é carinho no corpo todo.
    Quanto aos adeptos dos cuidados voltados para o próprio corpo, acima de qualquer coisa, como mercadoria para exibição, o prazer tende a se concentrar no próprio umbigo e o diálogo tende a se estender até o limite dos espelhos. E as relações amorosas nestes casos? São passageiras, posto que apenas para distrair, para melhorar o ibope ou às vezes até atrapalham. E o corpo, como fica? Se virou mercadoria, desumanizou. Que pena! Poderia ser um corpo bem cuidado, bem tratado, vaidoso, curioso, tagarela, que soubesse dialogar com outros corpos e não apenas com o seu próprio corpo.

Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Prática Clínica na Bioenergética.


    “Estar cheio de vida é respirar profundamente, mover-se livremente e sentir com intensidade.”
 (Alexander Lowen)



     A Análise Bioenergética é definida pelo seu criador Alexander Lowen como uma extensão do trabalho de WILHELM REICH, seu professor desde os anos 40 e terapeuta de 1942 a 45.
     A leitura da extensa obra publicada de A. Lowen aos que estão familiarizados com a obra de REICH nos mostra sua gratidão a REICH e continuação dentro da tradição Reichiana e Psicanalítica da qual REICH emergiu.
     Com REICH e como ele, teve a coragem de encarar seus conflitos e defesas caracterológicas e desenvolveu sua crença e teoria baseada no seu mestre e no contato com seu corpo, sentimentos e experiência.
    Situando-o historicamente, submeteu-se com REICH à psicoterapia denominada vegetoterapia caratero-analítica que era baseado na função respiratória, levando a entrega dos movimentos involuntários do corpo conectados com os sentimentos suprimidos. Participava das aulas de W. REICH sobre Análise do Caráter e a relação mente-corpo onde sua ênfase era a sexualidade como base de toda neurose.
    Se a pessoa era capaz de uma satisfação sexual plena não haveria energia para manter o sintoma neurótico e o paciente que desenvolvesse a potência orgástica estaria livre dos traços ou sintomas, neuróticos, idéia que os psicanalistas da época não aceitavam devido a indiscriminação do conceito de potência orgástica e relação sexual.
    Quando, durante a sessão terapêutica ocorria livre de inibição, conscientes ou inconscientes, o movimento involuntário da pélvis, acompanhado por ondas de respiração (Reflexo do Orgasmo) indicava para REICH que o paciente estava livre da sua estrutura neurótica de caráter. Lowen ao encerrar seu processo terapêutico com REICH havia desenvolvido regularmente o reflexo do orgasmo. Encerra seu processo para estudar medicina na Suíça por 5 anos e ao voltar encontra REICH e seus seguidores mais afastados do trabalho analítico.
    Sabia que não estava curado e que tinha de trabalhar mais profundamente nas tensões físicas e aprofundar a análise de seus problemas emocionais, que havia sido pouca, e sem focalizar os temas edípicos.
    Em resposta a esta necessidade de mais trabalho corporal para aliviar as tensões e tornar mais efetivo o sustentar das sensações desenvolvidas nas sessões introduziu o conceito de "Grounding", desenvolveu o "Stool" (banco) bioenergético e estendeu o conceito de análise do caráter para o físico mostrando como os tipos caracterológicos são estruturados no corpo.
    Desenvolveu uma série de exercícios como o arco e o arco invertido nos quais a musculatura sob stress aumenta a atividade vibratória involuntária, quebrando a tensão e a rigidez.
    Com o corpo mais vivo o ego relaxa o domínio sobre os sentimentos que brotam mais facilmente e vão sendo integrados na personalidade.
    Estas mudanças já são significativas, pois o paciente não está mais só deitado no divã, mas trabalha-se de pé, em grounding.
    O Stool abre a respiração e o bloqueio energético e diminui a rigidez dos músculos posteriores levando ao sentimento, e o uso da voz para expressão. O conceito de grounding é de estar nas suas próprias pernas, enraizado na realidade, e deter prazer sustentando os sentimentos em contato com sua própria natureza, ou seja, funções e realidade externa.
    Lowen ao estruturar, desenvolver e aprofundar a descrição da dinâmica energética dos tipos caracterológicos descritos por W. REICH introduziu a leitura corporal onde é possível ao terapeuta diagnosticar à dinâmica energética dos bloqueios sem conhecer toda a estória do paciente e inclui o narcisismo no corpo influenciado pela psicologia do ego (Kohut) e pela análise do momento cultural que vivemos.
    O aspecto físico do trabalho se tornou mais ativo, através do uso de mais ação física do paciente para expressar a emoção suprimida, como o bater, para expressar a raiva, o "Kicking" (bater pernas) para protestar contra a inibição de seus direitos básicos reprimidos.
    O terapeuta também se tornou mais ativo, através do toque às vezes firme e suave e às vezes firme e forte para aliviar a tensão do queixo e da garganta que seguram a descarga pelo choro que alivia a tristeza e a dor.
    Introduz mudanças nas conceitualizações sexuais reichianas. A meta da psicoterapia não é mais a potência orgástica, continua a ser um critério para a saúde emocional do indivíduo, mas, ninguém é orgasticamente potente numa cultura que promove a doença e não a saúde.

   A meta é desenvolver uma personalidade madura e sadia.
   O sexo é uma das maneiras como o indivíduo se expressa.
   Se ele é livre na auto expressão ele também é livre na expressão sexual e, portanto orgasticamente potente.

   A Análise Bioenergética é a maneira de compreender a pessoa e seus problemas emocionais nos termos da dinâmica de energia de seu corpo, pois o corpo nunca mente, tem a estória do indivíduo gravada ao contrário da fala que vem recheada de mecanismos de defesa egóicos.
   Trocou o foco da sexualidade da potência orgástica para funcionamento do ego que é auto - expressão. A habilidade de expressar plenamente seu Self é a meta da Análise Bioenergética.
   Está habilidade depende da autopossessão, ou seja, de conscientemente conter a expressão do sentimento.
   Saúde é a plena auto - expressão do fluxo livre da excitação através do corpo e que se manifesta em como o indivíduo se segura, se move, e usa a voz.
   Os temas de auto - expressão, auto possessão e a estrutura caracterológica compreendida em termos sexuais, são o foco terapêutico. Para desenvolver um senso de Self mais forte, aumentar o sentimento corporal e promover a identificação com sua natureza sexual, aumentamos o fluxo de excitação pelo corpo ajudando a pessoa a sentir-se mais conectada com o chão, com o seu corpo, e com sua sexualidade. Na maioria dos indivíduos o ego oferece resistência considerável para esta entrega ao Self corporal.
   Na Análise Bioenergética relacionamos o impulso sexual e o impulso para intensificação do ego com o fluxo de energia. O fluxo descendente é basicamente sexual por natureza e conecta com outro indivíduo e com a terra. Quando flui ascendentemente, através da cabeça, separa a pessoa da natureza de ser, conduzindo para um senso de separação e individualidade. A vida flui a partir da interação destas duas forças pendulares.
   Uma regra básica da Análise Bioenergética estabelece que a carga de energia não pode ser maior que a descarga de energia. O equilíbrio entre estas forças opostas é inerente ao fenômeno da pulsação, base da vida, processo de expansão e contração presente em todas as funções corporais.
   No homem o impulso expansivo energiza cada um dos seis pontos de contato com o mundo exterior (cabeça, genitais, braços e pernas) e na retração retira igualmente de todos os seis pontos.
   Nossa estrutura, como a do verme é a de um tubo dentro de um tubo, constituída de segmentos que fundidos deram origem aos três segmentos principais: cabeça, tórax e pélvis e dois menores o pescoço e a cintura que são passagens entre um segmento principal e outro.
  A presença de bloqueios nestas passagens dividem o corpo causando uma cisão entre os segmentos principais e perdendo-se a percepção da unidade.
   Para se restaurar o fluxo energético entre cabeça - corpo (pensamento e sentimento e / ou tórax e pélvis (coração e sexualidade) além do trabalho nas tensões físicas o indivíduo precisa ter consciência das experiências que determinam estas limitações e liberar as emoções primárias contidas (medo, raiva, tristeza e amor).

   A cabeça está conectada com o desenvolvimento do ego, controla as sensações do Self. O tórax é onde está o coração, centro médio do corpo e que faz a ligação energética com os outros centros e está conectado com o amor e é quebrado na fase oral e outra vez no período edipiano.

   A pélvis, e os genitais, está conectada com a consciência da sexualidade no período edipiano e na consciência do Self.

   Emoções como o amor e a raiva podem integrar uma personalidade cindida já que o fluxo dos sentimentos ternos encontram-se na parte anterior do corpo e os agressivos na parte posterior.

   A expressão desses sentimentos e o uso da voz (expressão dos músculos involuntários) mobilizam o tubo interno que integra estes três segmentos ao nível profundo.

   Para Lowen toda a pessoa que está a sua frente é um indivíduo sexual. Na relação entre ego e sexualidade, polaridades que se desenvolvem ao mesmo tempo e que se tornam conscientes na criança durante o período edípico, o aparecimento da sexualidade gera neste período sentimentos intensos na criança e nos pais. Esta situação leva à supressão dos sentimentos sexuais que ficam estruturados no corpo como desvios do fluxo energético. É nesta fase que o caráter se estrutura como um fenômeno do ego e serve para fornecer um significado para a vida da pessoa. É um mecanismo de sobrevivência e sua esperança de preenchimento e amor. Aceita o Caráter que lhe dá identidade e abre mão de seu verdadeiro Self.
   Inicia-se a Análise a partir da camada mais superficial pela análise do período edipiano e trabalham-se os traumas ocorridos no período pré edípico, responsáveis por muitas tensões e bloqueios, relacionando-os ao período edípico, ou seja, ao seu padrão estruturado de tensões musculares e de resposta ao meio ambiente.
    A carga transferencial é intensa e faz parte o trabalho na transferência com os sentimentos intensos deste período, ou seja, o conteúdo regressivo do trauma ocorrido no adulto de hoje.
    Nós analistas bioenergéticos buscamos integrar o fluxo energético da cabeça - coração e sexualidade até os pés.
     Restaurar a unidade do organismo encontrando a força vital de energia do core e a espiritualidade presente no corpo desbloqueado, que exprime a capacidade de amar que une o indivíduo ao cosmos.
     Estamos interessados pela forma como o indivíduo conduz o sentimento do amor, se o seu coração está aberto ou fechado, se ainda necessita do seu padrão caractereológico hoje em dia para ter o amor perdido ou se pode encarar que este mecanismo fracassou e o distanciou do seu Self.
    Será que o mais importante não é amar as pessoas e as coisas preenchendo seus sentimentos mais profundos?
    Estamos interessados neste conflito da alma humana e no desespero, medo e dor que subjaz no indivíduo, nesta luta de vida e morte.
    Abrir mão do caráter, do ego, da vontade que orienta e se deparar com um desejo de morrer tamanho desespero e dor por ter perdido seu verdadeiro self até tocar o desejo de viver, o impulso vital.
    No ego temos segurança, é o conhecido, é a experiência, é a identidade. No coração e no corpo temos medo de morrer ou de enlouquecer dada a intensidade das experiências dolorosas reprimidas e castradas.
    Todo coração é imprevisível e inexperiente. No contato terapeuta - paciente podemos nós terapeutas suportar a inexperiência dos nossos corações?
     Eros tem sua sede no coração e apesar de não mantermos nossos corações abertos todo o tempo, mas acompanhando o ritmo pulsatório destas ondas. São elas que levam ao desejo de proximidade com o outro e a partir da intensidade deste encontro o controle do ego e "morrer" por alguns instantes nos braços deste outro coração inexperiente também que se abre e se fecha em um outro ritmo e esta inexperiência de pulsar com o cosmos é de extrema cura, pois é a energia vital presente na potência orgástica.

   Sem ilusões. Se for paixão ou amor, são momentos de genitalidade.

   Sem o coração somos como máquinas e a vida perde seu sabor. O homem se perdeu ao dominar a natureza, pois cortou as próprias raízes. Por mais útil que seja o progresso ele afasta o indivíduo do seu grounding, pois é antinatural.

    Lowen analisando a cultura de hoje em dia, muito consumista e baseada em valores narcísicos, percebeu que as pessoas estão mais na cabeça, que no corpo, ou seja, que existe uma cisão cabeça-corpo. As pessoas fazem mais coisas e são mais ativas como um antídoto para depressão.

     São os indivíduos narcisistas que não confiam nos seus sentimentos e não aceitam a si mesmos.
     Estão interessados em ser bem sucedidos e ter poder para controlar a vida, atuam efetivamente, mas sem sentimentos.
     Do outro lado temos os indivíduos de personalidade borderline que estão em contato com seus sentimentos de morte e desespero, e que não conseguem funcionar efetivamente na superfície.
     Nos dois casos a cisão é entre o ego e o corpo, separando o indivíduo da criança com potencial e sentimentos que um dia ele foi. Existe uma barreira entre o passado e o presente no indivíduo que o separam dos sentimentos do coração e dos sentimentos das entranhas.


BIBLIOGRAFIA:
REICH WILHELM - "Análise do Caráter”, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1995
REICH WILHELM - "O Assassinato de Cristo”, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1991.
LOWEN, ALEXANDER - "A Espiritualidade do Corpo”, Ed. Cultrix, São Paulo, 1990.
LOWEN, ALEXANDER - "Amor sexo e seu coração”, Ed. Summus, São Paulo, 1990.
LOWEN, ALEXANDER - "Bioenergética", Ed. Summus, São Paulo, 1982.

Wilhelm Reich

REICH: TEORIA DA VIDA E TEORIA DO CONHECIMENTO (1)


Ao longo de sua obra, Wilhelm Reich (1897-1957) estabeleceu interfaces com várias áreas do conhecimento: Sexologia, Psicanálise, Epistemologia, Pedagogia, Sociologia, Biologia, Física, Meteorologia. Mais do que um adepto do ecletismo, ele se dedicou especialmente a investigar, em diversos campos, as manifestações de um singular processo energético. Na maturidade de seu trabalho o autor comentou que havia se dedicado "ao campo da Psiquiatria como um cientista natural. Esse interesse foi ditado, em primeiro lugar, pela questão da energia. Já era assim em 1919”.(2)

Em 1919, quando ainda cursava medicina na Universidade de Viena, Reich deu início às suas pesquisas. A “energética” e os fundamentos epistemológicos da produção científica são os temas que inauguraram sua obra e acabaram norteando toda sua produção. O jovem universitário suspeitava “que a energia funciona ANTES de qualquer massa; que não é a matéria, mas sim, a energia que é primária; que a massa precisa ser derivada, de alguma forma, da energia”.(3) Apaixonado, também, por Biologia, ele colocava a si mesmo, todo o tempo, a intrigante questão “o que é a vida?”. No decorrer de seus diversificados estudos extracurriculares, identificou-se com concepções filosóficas que se recusavam a assemelhar o funcionamento do vivo ao das máquinas e simpatizou com teorias que especulavam sobre uma energia biológica específica; acreditava, no entanto, que tais formulações precisavam alcançar status científico-natural. Convicto que a elaboração científica é indissociável da crítica epistemológica, ele adotou, desde o início de suas investigações, uma diretriz professada pelo filósofo Henri Bergson: teoria da vida e teoria do conhecimento são “inseparáveis uma da outra”.(4)
Formalmente aceito, em 1920, como membro da Sociedade Psicanalítica, Reich, por quatorze anos, procurou extrair conseqüências teóricas, clínicas, pedagógicas e políticas da teoria freudiana da libido. Empreendendo, no âmbito do movimento psicanalítico, uma série de pesquisas originais, ele elaborou, no período 1922-1926, a teoria da “potência orgástica”, teoria essa que se tornou o eixo de sua obra: “potência orgástica é a capacidade de se entregar ao fluxo da energia biológica, sem quaisquer inibições; a capacidade de descarregar completamente, por meio de convulsões involuntárias e prazerosas do corpo, a excitação sexual acumulada”.(5)

Entre 1927 e 1934, Reich desenvolveu uma nova metodologia terapêutica (a Análise do Caráter) e procurou, também, estabelecer conexões entre Psicanálise e Marxismo. Apoiando-se na concepção freudiana de sexualidade, na noção de potência orgástica e, também, no materialismo histórico e dialético de Marx e Engels, o autor agregou esse arsenal teórico-epistemológico a um convívio direto e intenso com a população economicamente desfavorecida. Atuando inicialmente em Viena (1927-1930) e depois em Berlim (1930-1933), ele se esforçou em demonstrar, por meio de publicações e de um amplo trabalho social, que política e sexualidade são domínios mutuamente dependentes.

Expulso, em 1933, do Partido Comunista e excluído, no ano seguinte, da Sociedade Psicanalítica, Reich, ameaçado pelo nazismo, procurou guarida em vários locais e acabou se exilando, em 1934, na Noruega. Nesse país, sua pesquisa pôde alcançar dimensão laboratorial. Ingressando no campo da Biofísica, o autor investigou o “comportamento” de correntes bio-elétricas que se movem coligadas aos estados emocionais do indivíduo; realizando experimentos na área da Biogênese, identificou vesículas que expressam estágios intermediários entre o inorgânico e o orgânico. Além de ampliar sua metodologia terapêutica (em 1935 surge a Vegetoterapia Caractero-Analítica) e aprimorar seus estudos sobre a lógica que rege o funcionamento do vivo, Reich detectou, em 1939, uma energia que atua em estratos biológicos profundos. Logo em seguida seus experimentos levaram-no a crer que aquela singular energia, inicialmente observada em seres vivos, fazia-se presente, também, na atmosfera. Nomeou, então, essa força básica como “energia orgone cósmica” e fundou um novo ramo de pesquisas, a Orgonomia.

Vivendo nos EUA desde 1939, Reich dedicou-se, por quase duas décadas, a realizar criteriosos experimentos e a descrever, em vasta literatura técnica, as manifestações da energia orgone nos domínios do vivo e do não-vivo, no micro e macrocosmos; preocupou-se, igualmente, em mapear a específica dinâmica dos fenômenos orgonóticos e em integrar Orgonomia e Matemática. Suas pesquisas conduziram-no, em seu período norte-americano, a áreas tão distintas como a Oncologia e a Meteorologia, posto que certas disfunções da energia orgone podem ser observadas, no entendimento do autor, tanto no câncer quanto nos processos de desertificação do planeta. Embrenhando-se em diversos campos de estudos (Física-Orgone, Biofísica-Orgone, Orgonoterapia, Pedagogia Orgonômica, Orgonometria), o pesquisador continuou, no entanto, denunciando os sistemas ideológicos que negam a vida e anestesiam, desde a infância, as capacidades críticas e as forças emocionais-sexuais.

Sistematicamente monitorado pelo Federal Bureau of Investigation e, desde o final da década de 1940, vítima de calúnias publicadas na imprensa e em revistas científicas, Reich passou a ser investigado, também, por outro órgão governamental, a Food and Drug Administration. Nos anos 50 o cientista acompanhou de perto a paranóica era macartista, além de se ver envolvido em um intrincado processo judicial, que resultou em sua prisão em 1957. Nesse mesmo ano ele faleceu, vítima de ataque cardíaco, em um presídio norte-americano.

Meio século se passaram desde a morte de Reich, mas ainda são poucos os estudos que procederam a uma reavaliação criteriosa de sua obra. Esse fato chama atenção, pois a pesquisa reichiana oferece, a nosso ver, ferramentas ímpares para refletirmos sobre nossa explosiva crise social e seus concomitantes problemas éticos e ecológicos.


1- Artigo publicado no Jornal da Unesp, Junho/2007– Ano XXI – nº 223. Também disponível em http://www.unesp.br/aci/jornal/223/supled.php
2- REICH, W. Man’s roots in nature. Orgonomic Functionalism: A journal devoted to the work of Wilhelm Reich, Rangeley, Maine, v.2, 1990.

3- REICH, W. Orgonomic functionalism in non-living nature. Orgonomic Functionalism: A journal devoted to the work of Wilhelm Reich, Rangeley, Maine, v.6, 1996.

4- Bergson, H. L’evolution créatrice. In: Henri Bergson - Oeuvres. Paris: Presses Universitaires de France, 1984.

5- REICH, W. The function of the orgasm: Volume 1 of the discovery of the orgone — Sex-economic problems of biological energy. Great Britain: Condor Book, 1989.



quinta-feira, 4 de março de 2010

Um Pouquinho Sobre Mim.

Sou Psicóloga há 9 anos, Sexóloga há 7 e Educadora há 5. Trabalhei em escolas e clínicas, quando finalmente me dediquei ao consultório. Durante meus anos como Psicóloga sempre busquei trabalhar com crianças, adolescentes, adultos e casais da maneira mais objetiva e sensata para o convívio sócio-psico-cultural, ampliando juntamente com a sexualidade, esta que sempre está em grande evidência e desenvolvimento contínuo entre as pessoas.

Como psicóloga, baseio-me nas linhas dos médicos e psicanalistas: Wilhelm Reich, Sigmund Freud e Jaques Lacan.

Como sexóloga, me encontro nas lições e idéias de Alfred Kinsey, Masters & Johnson e é claro, Wilhelm Reich.

Sou organizadora de Workshops e Palestras para todas as idades. Este trabalho é desenvolvido tanto em escolas, quanto em clínicas e até mesmo em consultório.

Sou educadora infantil, baseando-me nos trabalhos de Gilda Rizzo, Jean Frédéric Frenet e Maria Montessori.

Sou escritora por paixão, desde os 11 anos de idade, meu fascínio pela literatura vem traçando uma linha entre muitos gêneros, autores e estudiosos. Escrevo de artigos científicos a contos de suspense e poesia.

Sou cinéfila. Daquelas que estuda, compra livros, critica, coleciona, chora e se apaixona. Minha paixão são os filmes das décadas de 20 até o final de 60.

Sou apaixonada por música: Rock, Jazz, Blues, Gothic, Soundtrack, Anos 50/60/70/80/90, Dance e Nacionais (mas com restrições). Resgato músicas esquecidas pelo público e isso não é um trabalho muito fácil.

Sou Ser Humana. Assim como vc.

Sou Mãe de Anika Aldeia Alberti Schmidt, de 7 meses (até a presente data: 4/03/2010).