"O amor, o conhecimento e o trabalho, são fontes de nossas vidas. Deveriam também governá-los". - Wilhelm Reich







segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sexo e Mitologia


Amor, nascimento, vida e morte são temas constantes nas explicações mitológicas do mundo. Elas refletem costumes, medos e anseios dos diversos povos do passado.
Ela é gorda, sem rosto, seios pendulares, quadris rotundos e uma barriga tão proeminente que sugere gravidez. Tem uns 20 mil anos. Por isso, pode parecer que há uma ponta de ironia no nome que lhes deram: Vênus de Laussel. É uma estatueta pré-histórica, que indica a antiga preocupação humana com os mistérios da reprodução.
Fertilidade era tópico importantíssimo em culturas primitivas. Plantas e animais precisavam reproduzir-se para haver abundância, riqueza e lazer. E, para os velhos, a tranqüilidade dependia de uma prole numerosa e operosa, no fim da vida.
Poetas anônimos, de uma era anterior à escrita, já viam a terra como uma fêmea fecundada periodicamente pelo céu, que a inseminava com a chuva. Entres os kumanas da África do Sul encontra-se esse mesmo tema, que por outro lado já era conhecido dos gregos no século 5 a C. um velho ritual de casamento hindu inclui a seguinte fala do noivo: “Eu sou o céu, você é a terra”.
As deusas de maternidade e de amor do velho mundo pagão são geralmente originárias da terra, ou, então, simbolizam pontos geográficos e localizações.
A mágica da fertilidade inclui, para muitos povos, a prostituição sagrada. Na Babilônia, segundo Heródoto, toda mulher tinha de prostituir-se, pelo menos uma vez, no templo da deusa Ishtar. O dinheiro obtido era incorporado ao tesouro do templo. Um hino babilônico exaltava a deusa como uma prostituta que nem mesmo 120 homens seriam capazes de fatigar.
Nem sempre as homenagens à deusa envolviam ritos de prazer. Outra maneira de cultua-la, para um homem, seria castrar-se. A explicação desse costume aparece no mito da deusa Cibele.
Cibele era deusa-mãe e deusa da montanha da Ásia Menor. Originalmente, tinha os dois sexos, mas seus órgãos masculinos foram extirpados por outros deuses. Da hemorragia resultou a amendoeira.
Uma das amêndoas caiu no colo de uma jovem, que em conseqüência engravidou e deu à luz o belo deus Attis, que passaria a ser conhecido como filho e amante de Cibele. Attis enlouqueceu, castrou-se e ofereceu seus órgãos genitais a Cibele.
Uma pequena lembrança passa a mim da antiga história grega de Édipo e Jocasta da Mitologia grega, só que ao invés de castrar-se por ser amante da mãe, ele permitiu-se ficar cego diante de sua “perversão”.
Cibele também é deusa na mitologia grega e sua função é a deusa da terra, a fertilização da terra para um bom cultivo de alimentos.
Da carne sacrificada despontaram violetas. Depois o deus sangrou até morrer e Cibele quase enlouqueceu de dor. Mas, Attis, mais tarde, ressuscitou. Em Roma, onde a morte e a ressurreição de Attis eram celebradas em março, as violetas simbolizam o retorno da primavera.
Outro mito baseado nas estações, com o ciclo de morte e renascimento da vegetação é o da lenda de Perséfone ou Prosérpina, filha da deusa-terra Demeter. Que na mitologia grega é Cibele.

O Amor nos Mitos de Criação do Mundo.



Raptada por Hades, o deus dos mundos subterrâneos, Perséfone passou a reinar ali. Mas sua tristeza acabou levando o raptor a permiti-lhe periódicas ascensões à superfície. Perséfone, portanto, representa os cereais que surgem e desaparecem todo ano.
Como sexo e nascimento estão definitivamente relacionados com a vida dos seres humanos, o mesmo mecanismo aparece com freqüência nas explicações mitológicas da origem do mundo.
O deus egípcio Atum, segundo a lenda, vivia sozinho no caos. De sua semente nasceram o deus Shu e a deusa Tefnut. Da união desses deuses surgiram Geb, a terra, e Nut, o céu, que por sua vez deram origem a Osíris, Isis, Set e Neftis.
Nesse mito, a terra é uma personagem masculina e o céu é uma feminina. A razão disto talvez provenha do costume egípcio de a mulher assumir a posição superior durante o ato sexual.
Mitos dessa natureza envolvem necessariamente o incesto. No Egito, essa situação mitológica tinha paralelo no costume real de se casarem irmãos. Durante gerações, a rainha tinha de ser esposa e irmã do Faraó.
Em muitas outras sociedades, porém, o incesto era visto com reprovação e horror, mesmo entre os nobres, embora freqüentemente admitido entre os deuses. Zeus, deus supremo da Grécia, violentou a própria mãe, desposou uma de suas irmãs e teve ligações com as outras. Em muitos mitos, o primeiro casal é de irmãos.
Psicanalistas freudianos tentaram considerar a presença do incesto nesses mitos como fantasias criadas por desejos reprimidos: a proibição do incesto atuando também como atração. Mas parte da explicação é a tendência humana de buscar uma origem lógica para a raça, e isso envolve obrigatoriamente o incesto.
Ou Adão ou algum de seus filhos devem ter tido alguma ligação com alguma das filhas do primeiro casal, para dar origem à descendências.

Uma Força Humana, ou Super-humana?
Os impulsos do sexo são vistos tradicionalmente como superiores às forças sociais e religiosas que buscam limita-los. Também nos mitos, os amantes desafiam as normas, magoam seres queridos e chegam a destruir-se, levados pela força onipotente do amor.
Na lenda de Tristão e Isolda, relatada na ópera de Wagner, o herói e a heroína bebem inadvertidamente de uma poção mágica. Em conseqüência, desaparecem os motivos de antipatia que havia entre eles. O resultado é a tragédia, que envolve todos.
O mesmo sentido de paixão aparece nas lendas gregas de Eros, que simboliza o desejo. Mais tarde, Eros se converte em cupido, que dispara suas setas de desejo ardente sobre os mortais e imortais.
Eros, porém, era menos frívolo do que o cupido. Sua degeneração em cupido é explicada como conseqüência da difusão, durante o Helenismo, das idéias de amor romântico entre os sexos.
Os aspectos perigosos do sexo aparecem também com Adão e Eva. Vergonha e culpa foram duas conseqüências imediatas da descoberta do sexo, para eles. Moralistas cristãos defendiam a idéia de que o sexo é pecaminoso, principalmente porque o desejo tende a suplantar a razão.
Há muitos mitos mesopotâmicos, ainda mais antigos, que focalizam a mesma temática de decadência causada pelo conhecimento do sexo e pela perfídia feminina.
Nessas lendas, a mulher aparece como dissipadora da energia moral masculina por efeito de um provável paralelo: a suposição de que a mulher absorve vitalidade do homem durante o ato sexual. Outra razão é que a tradicional superioridade masculina na sociedade aparece justificada como um necessário fator de ordem.
Como fato central da vida humana, o sexo ao lado da morte, foi um ponto de apoio para a construção de mitos. Diante das forças que dão origem à vida ou que a cortam, a mente humana sempre se sentiu insegura. Na tentativa de entende-las e de controla-las, elaborou mitos e ritos e ainda elabora.
Mesmo hoje, além dos limites do conhecimento científico – que não pode responder tudo -, o homem continua a agarrar-se em mitos. Eles são tanto importantes quanto mais inseguros nos sentimos num mundo confuso e perturbado.







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