"O amor, o conhecimento e o trabalho, são fontes de nossas vidas. Deveriam também governá-los". - Wilhelm Reich







domingo, 28 de março de 2010

A afetividade entre mãe-bebê, a construção da realidade psicológica da criança e as consequências da ausência afetiva maternal da entrada das crianças nos Infantários (creches)

Foto Tirada por Stephan A. Schmidt, o Pai.
Imagem: Lilian Aldeia e Anika (carnaval 2010)

O nascimento da vida psíquica num bebê começa na relação que é estabelecida com a mãe.
De acordo com o pediatra Inglês – Winnicott – os cuidados maternos adequados são indissociáveis do bebê e garantia de uma boa saúde mental. Segundo ele, um lactente isolado não existe: quando encontramos uma criança, encontramos cuidados maternos. Acrescenta, por outro lado, que o rosto da mãe é o primeiro e único verdadeiro espelho da criança.
A relação mãe-bebê está correlacionada com o processo de maturação da criança. As primeiras experiências intersubjetivas desenvolvem-se num banho de afetos, (S. LEBOVICI, 1983).
A mãe comunica os seus afetos interpretando as necessidades e desejos do bebê. Para isto, ela utiliza as suas capacidades de empatia, que lhe permitem perceber os estados afectivos do bebê.
Segundo B. Brazelton, o que caracteriza a interação típica entre uma mãe e o seu bebê é a sua natureza cíclica, com a alternância de períodos durante os quais a criança fixa intensamente o rosto da mãe e períodos em que o evita, fechando os olhos ou desviando-os ligeiramente.

Winnicott distingue três séries de atos nos cuidados que a mãe prodigaliza à criança:
1.O Holding que corresponde ao amparo da criança pela mãe, ela suporta-o, assegura-lhe um continente corporal graças ao seu próprio corpo dela no espaço.

2.O Handling reenvia para os cuidados e manipulações da criança pela mãe, que ao faze-lo, lhe proporciona sensações tácteis, cinestésicas, auditivas e visuais.

3.O Object-presenting corresponde ao modo de apresentação do objeto; assim através da mãe, a criança tem acesso aos objetos simples, depois a objectos progressivamente mais complexos e finalmente à sua dimensão.

A mãe partilha com a criança pequena um pedaço do mundo à parte mantendo-o suficientemente limitado para que a criança não fique confusa e aumentando-o muito progressivamente de forma a satisfazer a capacidade crescente da criança fruir do mundo, (Winnicott, 1957).
A relação de objeto da criança com a mãe, objecto de Amor, define a afetividade relacional. Há ainda um enquadramento dessa afetividade num estado afetivo geral, que pode ser alegre ou triste, tranquilo ou ansioso, agitado ou instável.
A criança aprende a conhecer o ambiente e o seu conteúdo através da interacção dinâmica com a mãe.
No início assiste-se a uma díade relacional e posteriormente com a introdução do pai, uma tríade relacional de afetos, cada um com a sua função na construção psico-emocional da criança.
Diria que a relação objetal com mãe será a plataforma psíquica na qual a criança constrói a sua identidade social.
Se existirem bons alicerces, esta construção será harmoniosa e estável, se não for bem conseguida, a construção citada, a criança pode porventura apresentar alguns problemas psicológicos e muitas vezes problemas psicossomáticos.
A criança começa a percepcionar a Vida através da primeira relação social que é com a mãe.
Brazelton observou que o lactente é capaz de antecipar uma inter-relação social e que, quando as suas tentativas não são satisfatórias, ele utiliza uma diversidade de técnicas para tentar implicar a sua mãe.
Margaret Malher, que ao estudar a cria do Homem durante o seu desenvolvimento e na sua interacção com a mãe, esta propõe a teoria da existência de um processo de separação/individuação que conduz a criança a uma representação de si própria clara e distinta e posto isto, a uma autonomização da vida psíquica.
Existe unanimidade entre todos os autores que estudam o Desenvolvimento da criança, que a interação mãe-bebê é crucial pois determina o aparecimento e o início da vida psíquica e permite à criança uma construção de estrutura mental e emocional.
No entanto, acontece que na atualidade assiste-se a uma “despersonalização maternal” do vínculo afetivo entre mãe-bebê, dado que é prática comum e social, as mães terem que colocar os seus bebês, geralmente por volta dos 4 meses quando acaba a licença de parto, em creches e infantários, para que esta possa trabalhar.
Será que os serviços materno-infantis existentes cumprem a sua função de as crianças terem necessidade de se relacionar com pessoas privilegiadas e afetivamente disponíveis?
É uma questão pertinente que nos leva a uma atitude reflexiva acerca desta problemática.

Concluindo e citando João dos Santos:
“Não quero negar a necessidade de creches, mas penso que para que se promova um desenvolvimento psicomotor, afetivo e intelectual favorável é necessário preservar a criança das perturbações que resultam de uma relação perturbada com a mãe ou com a Instituição que o recolhe durante as horas de trabalho da mãe.
Porem, a idéia hoje divulgada é a que existência do infantário resolve todos os problemas da criança.
Nunca em nenhuma sociedade os problemas do bebê puderam ser separados do problema da mãe e da criança.
A função maternal pode ser exercida pela creche, se o seu pessoal for composto de pessoas autênticas, integradas por técnicos com formação profissional adequada.
Um técnico vale mais por aquilo que é, do que por aquilo que sabe (S. Nacht).
É também verdade para todos os técnicos que trabalham com pessoas, quer elas sejam crianças ou adultos, mas hoje o que faz com o pessoal é mais para valorizar o que eles sabem do que o que eles são.
Finalizando, para que uma creche possa exercer a sua função maternal, é necessário que ela se alimente e viva de uma forte participação das mães…”

Bibliografia consultada:
Benony, Hervé., O desenvolvimento da criança e as suas psicopatologias, Climepsi Editores
Boubli, Myriam., Psicopatologia da criança, Climepsi Editores
Branco, M.E.C., Vida, Pensamento e Obra de João dos Santos, Livros Horizonte: Lisboa
Gueniche, K., Psicopatologia descritiva e interpretativa da criança, Climepsi Editores





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