No intervalo...
Durante muitos anos, não se sabia qual a real representação dos contos de fadas e como eles apareceram em nossas vidas, de onde eles vieram, de que época e quem eram os personagens que ali enfrentavam o bem e o mal com as forças da natureza e da sapiência.
Os contos de fadas nada mais eram que um meio para deixar os pequeninos quietos, assustados, trabalhando o lúdico e expressando a capacidade do consciente para a vida sócio-psico-cultural.
Uma verdade: História infantis eram o cotidiano na cidade. Sim!!Falando bruscamente, as mães ouviam as notícias da cidade e transformavam elas em sonhos de uma maneira sutil e interessante para as crianças que quase nunca a deixavam fazer seus afazeres domésticos, então o único jeito de aquietá-los e a mãe conseguir descansar era "criar", "transformar" a notícia da rua em algo extraodinário e imaginário, dentro dos limites da mente infantil.
Bruno Betenhein, psicólogo, neo-psicanalista e educador, trabalhou em um livro denominado: A psicanálise dos contos de fadas, onde ele retrata a verdadeira face das histórias que nossos tataravós, bisavós e avós contavam, de maneira verdadeira, cruel (para quem não quer enxergar a realidade) e ao mesmo tempo lúdica e psicológicamente conturbada.
OS CONTOS DE FADA NO PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Podem-se perguntar as razões pelas quais a psicologia junguiana se interessa por mitos e contos de fada. O Dr. Jung, disse certa vez, que é nos contos de fada onde melhor se pode estudar a anatomia comparada da psique. Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado obtém-se as estruturas básicas da psique humana através da grande quantidade de material cultural. Mas nos contos de fada, existe um material consciente culturalmente muito menos específico e, conseqüentemente, eles oferecem uma imagem mais clara das estruturas psíquicas (FRANZ, 1990: 25).
Divididos entre o bem e o mal, representados por príncipes, fadas e também por monstros, lobos e bruxas apavorantes, os contos de fadas encantam as crianças e os adultos desde a sua criação, que data da época medieval. Mas a sua função não pára aí, pois além do entretenimento, transmitem ainda valores e costumes e ajudam a elaborar a própria vida através de situações conflitantes e fantásticas. “Mitos e contos de fadas expressam processos inconscientes. A narração dos contos revitaliza esses processos e restabelece a simbiose entre consciente e inconsciente” - já havia dito Carl Gustav Jung, famoso psicanalista e discípulo de Freud (apud CEZARETTI, 1989: 24).
Segundo Bettelheim, (apud CEZARETTI, 1989: 24), que analisa as histórias mais conhecidas, todos os problemas e ansiedades infantis, como a necessidade do amor, do medo e do desamparo, da rejeição e da morte, são colocados nos contos em lugares fora do tempo e do espaço, mas muito reais para crianças. A solução geralmente encontrada na história e quase sempre leva a um final feliz, indica a forma de se construir um relacionamento satisfatório com as pessoas ao redor.
Mas evidentemente, para se chegar ao final nem tudo são flores. Os contos estão repletos de problemas como a presença do bem e do mal, e partindo desse ponto pretendemos desenvolver uma reflexão sobre a fantasia e suas imagens simbólicas nos contos de fada como recursos fundamentais no desenvolvimento humano, o que constituem o conteúdo do presente trabalho.
DESENVOLVIMENTO
A origem dos contos de fadas, segundo Marie Louise Von Franz (apud GIGLIO, 1991: 3), parece residir em uma potencialidade humana arquetípica (aliás, não somente os contos de fada, como todas as fantasias). Antigamente os pastores, lenhadores e caçadores, passavam bom tempo de suas vidas sozinhos nas florestas, campos e montanhas. Acontecia que repentinamente eram assaltados por uma visão interior muito forte, que os alvoroçava por inteiro. Corriam então de volta a suas aldeias e relatavam o que lhes tinha acontecido a todos que o quisessem ouvir. Daquela visão inicial, iam-se formando lendas, e mais tarde “contos maravilhosos”. O pensamento mítico, no caso dessas visões espontâneas, é compreendido como um pensamento essencialmente pré-lógico, elementar e arquetípico. Os arquetípicos por definição, são fatores e motivos que ordenam os elementos psíquicos em imagens, de modo típico.
Como afirma Jung (apud GIGLIO, 1991: 15), os contos de fada constituíram através dos séculos instrumentos para a expressão do pensamento mítico, perpetuando-se no tempo por desempenharem uma função psíquica importante relacionada ao processo da individuação: através deles toma-se consciência e vivencia-se arquétipos do inconsciente coletivo. Esses arquétipos, por sua vez, ao serem trazidos à consciência e dramaticamente vivenciados permitem a Psique cumprir as etapas de integração progressiva do desenvolvimento da persona, conscientização da sombra, confrontação com a anima / animus e outros arquétipos, e finalmente atingir um estado onde a comunicação Ego-Self seja fluente e criativa (apud THOMPSON, 1969: 152). Ainda a partir de uma perspectiva junguiana, (apud THOMPSON, 1969: 152) existe um lado masculino e um lado feminino em cada um de nós. Se o masculino é dominante, o feminino é recalcado. O indivíduo bem conformado necessita desenvolver ambos os aspectos. Também existem quatro características principais em cada um de nós: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Constituem pares de oponentes. Nos homens o pensamento e a sensação constituem, habitualmente, características conscientes, ao passo que o sentimento e a intuição encontram-se recalcados. Nas mulheres, sentimentos e intuição são predominantes. O lado feminino recalcado do homem é denominado anima, o lado masculino da mulher é o seu animus.
Em Franz (apud GIGLIO, 1991: 6), os contos de fada numa visão junguiana são uma representação simbólica de problemas gerais humanos e suas soluções possíveis, ou seja, as representações da fantasia são tão primárias e originais como os próprios desejos e instintos. Nos conteúdos dos contos de fada é possível ver uma projeção dos estágios originais e arquetípicos do desenvolvimento da consciência humana. Nos símbolos do inconsciente, nos sonhos e fantasias, encontram-se os mesmos princípios da expressão dos mitos e contos de fada, o que, representa um recurso fundamental no processo do desenvolvimento humano.
Conforme Araújo (1980: 39), para Jung certas lendas, mitos e símbolos têm origem na infância da humanidade em que faltando recursos intelectuais, o homem apresentava uma disposição natural para aceitar o sobrenatural. Seria assim uma necessidade psicológica de buscar soluções mágicas e de criar seres fantásticos para superar uma realidade que lhe impunha limitações. O inconsciente coletivo, guardaria assim, uma necessidade de retorno as origens do homem revivendo experiências anteriores da humanidade.
À luz da psicanálise, os contos de fadas revelam os conflitos de cada um e a forma de superá-los e recuperar a harmonia existencial. Assim a tão famosa dicotomia entre o bem e o mal, presta-se numa terapia, a uma análise mais contundente da personalidade, na qual se permite trabalhar com sentimentos inconscientes que revelam a verdadeira personalidade (CEZARETTI, 1989: 26).
Diz Bettelheim (1980: 16):
Para dominar os problemas psicológicos do crescimento - separar decepções narcisistas, dilemas edípicos, rivalidades fraternas, ser capaz de abandonar dependências infantis; obter um sentimento de individualidade e de autovalorização, e um sentido de obrigação moral - a criança necessita entender o que se está passando dentro de seu eu inconsciente. Ela pode atingir essa compreensão, e com isto a habilidade de lidar com as coisas, não através da compreensão racional da natureza e conteúdo de seu inconsciente, mas familiarizando-se com ele através de devaneios prolongados - ruminando, reorganizando e fantasiando sobre elementos adequados da estória em resposta a pressões inconscientes. Com isto, a criança adequa o conteúdo inconsciente às fantasias conscientes, o que a capacita a lidar com este conteúdo. É aqui que os contos de fadas têm um valor inigualável, conquanto oferecem novas dimensões à imaginação da criança que ela não poderia descobrir verdadeiramente por si só. Ajuda mais importante: a forma e estrutura dos contos de fadas sugerem imagens à criança com as quais ela pode estruturar seus devaneios e com eles dar melhor direção à sua vida.
O significado oculto dos contos de fadas
Ao longo dos últimos 100 anos, os contos de fadas e seu significado oculto têm sido objeto da análise dos seguidores de diversas correntes da psicologia. Sheldon Cashdan, por exemplo, sugere que os contos seriam "psicodramas da infância" espelhando "lutas reais". Na visão de Cashdan, "embora o atrativo inicial de um conto de fada possa estar em sua capacidade de encantar e entreter, seu valor duradouro reside no poder de ajudar as crianças a lidar com os conflitos internos que elas enfrentam no processo de crescimento".
Cashdan, prossegue em sua análise sobre a vinculação entre os contos de fadas e os conflitos internos infantis:
“ Cada um dos principais contos de fadas é único, no sentido em que trata de uma predisposição falha ou doentia do eu. Logo que passamos do "era uma vez", descobrimos que os contos de fada falam de vaidade, gula, inveja, luxúria, hipocrisia, avareza ou preguiça - os "sete pecados capitais da infância". Embora um determinado conto de fada possa tratar de mais de um "pecado", em geral um deles ocupa o centro da trama. ”
O processo pelo qual as crianças podem utilizar os contos de fadas na resolução de seus próprios problemas é explicitado mais adiante:
“ O modo pelo qual os contos de fada resolvem esses conflitos é oferecendo às crianças um palco onde elas podem representar seus conflitos interiores. As crianças, quando ouvem um conto de fada, projetam inconscientemente partes delas mesmas em vários personagens da história, usando-os como repositórios psicológicos para elementos contraditórios do eu. ”
Já os jungianos, vêem nas personagens dos contos "figuras arquetípicas", que, segundo Franz,[8] "à primeira vista, não têm nada a ver com os seres comuns ou com os caracteres descritos pela Psicologia".
BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise nos contos de fadas. Trad. Arlene Caetano. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
FRANZ, Marie-Louise Von. A Interpretação dos Contos de Fada. 3ª ed. Trad. Maria Elci Spaccaquerque Barbosa. São Paulo: Paulus, 1990.
------. A Sombra e o Mal nos Contos de Fadas. São Paulo: Paulinas, 1985.
CASHDAN, Sheldon. 'Os 7 pecados capitais nos contos de fadas: como os contos de fadas influenciam nossas vidas'. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
Ps: O que mais me intriga nos contos de fadas é o famoso "felizes para sempre", a representação exata do cujo é que após o casamento, a princesa irá passar, cozinhar, costurar, engravidar, passar pro processo de engorda e emagrecimento, terá de comprar mil cremes na Avon, Peyot, Elke, Wella para não envelhecer precosemente, criar os filhos, alertar-se com o anticoncepcional, se aborrecer no trabalho, em casa e ter noites sem dormir, brincar com as crianças, ter domingos prazeirosos com a família, uma noite de sono em paz, principe q chega tarde em casa, principe que cai na gandaia sem a princesa etc. A realidade é muito além das fadas, dos montes e por detras das muralhas do castelo encantado.
Confesso que sou do tipo que gosta de mostrar de tirar a máscara dos contos de fadas, não faço isso com crianças, mas sim, com os adultos, pois que muitos ainda vivem em um mundo fora da realidade social e evolutiva.
Muitas vezes vale a pena falar a verdade, por mais que ela doa, mas de uma coisa vc tenha certeza: Tudo vai passar.
sem sombra de duvida isso passa, e mais que isso, nao precisamos esperar nadinha pra que isso aconteca, para tanto basta observarmos em nosso lar ou em outro que tenhamos aoportunidade
ResponderExcluir