“Estar cheio de vida é respirar profundamente, mover-se livremente e sentir com intensidade.”
(Alexander Lowen)
A Análise Bioenergética é definida pelo seu criador Alexander Lowen como uma extensão do trabalho de WILHELM REICH, seu professor desde os anos 40 e terapeuta de 1942 a 45.
A leitura da extensa obra publicada de A. Lowen aos que estão familiarizados com a obra de REICH nos mostra sua gratidão a REICH e continuação dentro da tradição Reichiana e Psicanalítica da qual REICH emergiu.
Com REICH e como ele, teve a coragem de encarar seus conflitos e defesas caracterológicas e desenvolveu sua crença e teoria baseada no seu mestre e no contato com seu corpo, sentimentos e experiência.
Situando-o historicamente, submeteu-se com REICH à psicoterapia denominada vegetoterapia caratero-analítica que era baseado na função respiratória, levando a entrega dos movimentos involuntários do corpo conectados com os sentimentos suprimidos. Participava das aulas de W. REICH sobre Análise do Caráter e a relação mente-corpo onde sua ênfase era a sexualidade como base de toda neurose.
Se a pessoa era capaz de uma satisfação sexual plena não haveria energia para manter o sintoma neurótico e o paciente que desenvolvesse a potência orgástica estaria livre dos traços ou sintomas, neuróticos, idéia que os psicanalistas da época não aceitavam devido a indiscriminação do conceito de potência orgástica e relação sexual.
Quando, durante a sessão terapêutica ocorria livre de inibição, conscientes ou inconscientes, o movimento involuntário da pélvis, acompanhado por ondas de respiração (Reflexo do Orgasmo) indicava para REICH que o paciente estava livre da sua estrutura neurótica de caráter. Lowen ao encerrar seu processo terapêutico com REICH havia desenvolvido regularmente o reflexo do orgasmo. Encerra seu processo para estudar medicina na Suíça por 5 anos e ao voltar encontra REICH e seus seguidores mais afastados do trabalho analítico.
Sabia que não estava curado e que tinha de trabalhar mais profundamente nas tensões físicas e aprofundar a análise de seus problemas emocionais, que havia sido pouca, e sem focalizar os temas edípicos.
Em resposta a esta necessidade de mais trabalho corporal para aliviar as tensões e tornar mais efetivo o sustentar das sensações desenvolvidas nas sessões introduziu o conceito de "Grounding", desenvolveu o "Stool" (banco) bioenergético e estendeu o conceito de análise do caráter para o físico mostrando como os tipos caracterológicos são estruturados no corpo.
Desenvolveu uma série de exercícios como o arco e o arco invertido nos quais a musculatura sob stress aumenta a atividade vibratória involuntária, quebrando a tensão e a rigidez.
Com o corpo mais vivo o ego relaxa o domínio sobre os sentimentos que brotam mais facilmente e vão sendo integrados na personalidade.
Estas mudanças já são significativas, pois o paciente não está mais só deitado no divã, mas trabalha-se de pé, em grounding.
O Stool abre a respiração e o bloqueio energético e diminui a rigidez dos músculos posteriores levando ao sentimento, e o uso da voz para expressão. O conceito de grounding é de estar nas suas próprias pernas, enraizado na realidade, e deter prazer sustentando os sentimentos em contato com sua própria natureza, ou seja, funções e realidade externa.
Lowen ao estruturar, desenvolver e aprofundar a descrição da dinâmica energética dos tipos caracterológicos descritos por W. REICH introduziu a leitura corporal onde é possível ao terapeuta diagnosticar à dinâmica energética dos bloqueios sem conhecer toda a estória do paciente e inclui o narcisismo no corpo influenciado pela psicologia do ego (Kohut) e pela análise do momento cultural que vivemos.
O aspecto físico do trabalho se tornou mais ativo, através do uso de mais ação física do paciente para expressar a emoção suprimida, como o bater, para expressar a raiva, o "Kicking" (bater pernas) para protestar contra a inibição de seus direitos básicos reprimidos.
O terapeuta também se tornou mais ativo, através do toque às vezes firme e suave e às vezes firme e forte para aliviar a tensão do queixo e da garganta que seguram a descarga pelo choro que alivia a tristeza e a dor.
Introduz mudanças nas conceitualizações sexuais reichianas. A meta da psicoterapia não é mais a potência orgástica, continua a ser um critério para a saúde emocional do indivíduo, mas, ninguém é orgasticamente potente numa cultura que promove a doença e não a saúde.
A meta é desenvolver uma personalidade madura e sadia.
O sexo é uma das maneiras como o indivíduo se expressa.
Se ele é livre na auto expressão ele também é livre na expressão sexual e, portanto orgasticamente potente.
A Análise Bioenergética é a maneira de compreender a pessoa e seus problemas emocionais nos termos da dinâmica de energia de seu corpo, pois o corpo nunca mente, tem a estória do indivíduo gravada ao contrário da fala que vem recheada de mecanismos de defesa egóicos.
Trocou o foco da sexualidade da potência orgástica para funcionamento do ego que é auto - expressão. A habilidade de expressar plenamente seu Self é a meta da Análise Bioenergética.
Está habilidade depende da autopossessão, ou seja, de conscientemente conter a expressão do sentimento.
Saúde é a plena auto - expressão do fluxo livre da excitação através do corpo e que se manifesta em como o indivíduo se segura, se move, e usa a voz.
Os temas de auto - expressão, auto possessão e a estrutura caracterológica compreendida em termos sexuais, são o foco terapêutico. Para desenvolver um senso de Self mais forte, aumentar o sentimento corporal e promover a identificação com sua natureza sexual, aumentamos o fluxo de excitação pelo corpo ajudando a pessoa a sentir-se mais conectada com o chão, com o seu corpo, e com sua sexualidade. Na maioria dos indivíduos o ego oferece resistência considerável para esta entrega ao Self corporal.
Na Análise Bioenergética relacionamos o impulso sexual e o impulso para intensificação do ego com o fluxo de energia. O fluxo descendente é basicamente sexual por natureza e conecta com outro indivíduo e com a terra. Quando flui ascendentemente, através da cabeça, separa a pessoa da natureza de ser, conduzindo para um senso de separação e individualidade. A vida flui a partir da interação destas duas forças pendulares.
Uma regra básica da Análise Bioenergética estabelece que a carga de energia não pode ser maior que a descarga de energia. O equilíbrio entre estas forças opostas é inerente ao fenômeno da pulsação, base da vida, processo de expansão e contração presente em todas as funções corporais.
No homem o impulso expansivo energiza cada um dos seis pontos de contato com o mundo exterior (cabeça, genitais, braços e pernas) e na retração retira igualmente de todos os seis pontos.
Nossa estrutura, como a do verme é a de um tubo dentro de um tubo, constituída de segmentos que fundidos deram origem aos três segmentos principais: cabeça, tórax e pélvis e dois menores o pescoço e a cintura que são passagens entre um segmento principal e outro.
A presença de bloqueios nestas passagens dividem o corpo causando uma cisão entre os segmentos principais e perdendo-se a percepção da unidade.
Para se restaurar o fluxo energético entre cabeça - corpo (pensamento e sentimento e / ou tórax e pélvis (coração e sexualidade) além do trabalho nas tensões físicas o indivíduo precisa ter consciência das experiências que determinam estas limitações e liberar as emoções primárias contidas (medo, raiva, tristeza e amor).
A cabeça está conectada com o desenvolvimento do ego, controla as sensações do Self. O tórax é onde está o coração, centro médio do corpo e que faz a ligação energética com os outros centros e está conectado com o amor e é quebrado na fase oral e outra vez no período edipiano.
A pélvis, e os genitais, está conectada com a consciência da sexualidade no período edipiano e na consciência do Self.
Emoções como o amor e a raiva podem integrar uma personalidade cindida já que o fluxo dos sentimentos ternos encontram-se na parte anterior do corpo e os agressivos na parte posterior.
A expressão desses sentimentos e o uso da voz (expressão dos músculos involuntários) mobilizam o tubo interno que integra estes três segmentos ao nível profundo.
Para Lowen toda a pessoa que está a sua frente é um indivíduo sexual. Na relação entre ego e sexualidade, polaridades que se desenvolvem ao mesmo tempo e que se tornam conscientes na criança durante o período edípico, o aparecimento da sexualidade gera neste período sentimentos intensos na criança e nos pais. Esta situação leva à supressão dos sentimentos sexuais que ficam estruturados no corpo como desvios do fluxo energético. É nesta fase que o caráter se estrutura como um fenômeno do ego e serve para fornecer um significado para a vida da pessoa. É um mecanismo de sobrevivência e sua esperança de preenchimento e amor. Aceita o Caráter que lhe dá identidade e abre mão de seu verdadeiro Self.
Inicia-se a Análise a partir da camada mais superficial pela análise do período edipiano e trabalham-se os traumas ocorridos no período pré edípico, responsáveis por muitas tensões e bloqueios, relacionando-os ao período edípico, ou seja, ao seu padrão estruturado de tensões musculares e de resposta ao meio ambiente.
A carga transferencial é intensa e faz parte o trabalho na transferência com os sentimentos intensos deste período, ou seja, o conteúdo regressivo do trauma ocorrido no adulto de hoje.
Nós analistas bioenergéticos buscamos integrar o fluxo energético da cabeça - coração e sexualidade até os pés.
Restaurar a unidade do organismo encontrando a força vital de energia do core e a espiritualidade presente no corpo desbloqueado, que exprime a capacidade de amar que une o indivíduo ao cosmos.
Estamos interessados pela forma como o indivíduo conduz o sentimento do amor, se o seu coração está aberto ou fechado, se ainda necessita do seu padrão caractereológico hoje em dia para ter o amor perdido ou se pode encarar que este mecanismo fracassou e o distanciou do seu Self.
Será que o mais importante não é amar as pessoas e as coisas preenchendo seus sentimentos mais profundos?
Estamos interessados neste conflito da alma humana e no desespero, medo e dor que subjaz no indivíduo, nesta luta de vida e morte.
Abrir mão do caráter, do ego, da vontade que orienta e se deparar com um desejo de morrer tamanho desespero e dor por ter perdido seu verdadeiro self até tocar o desejo de viver, o impulso vital.
No ego temos segurança, é o conhecido, é a experiência, é a identidade. No coração e no corpo temos medo de morrer ou de enlouquecer dada a intensidade das experiências dolorosas reprimidas e castradas.
Todo coração é imprevisível e inexperiente. No contato terapeuta - paciente podemos nós terapeutas suportar a inexperiência dos nossos corações?
Eros tem sua sede no coração e apesar de não mantermos nossos corações abertos todo o tempo, mas acompanhando o ritmo pulsatório destas ondas. São elas que levam ao desejo de proximidade com o outro e a partir da intensidade deste encontro o controle do ego e "morrer" por alguns instantes nos braços deste outro coração inexperiente também que se abre e se fecha em um outro ritmo e esta inexperiência de pulsar com o cosmos é de extrema cura, pois é a energia vital presente na potência orgástica.
Sem ilusões. Se for paixão ou amor, são momentos de genitalidade.
Sem o coração somos como máquinas e a vida perde seu sabor. O homem se perdeu ao dominar a natureza, pois cortou as próprias raízes. Por mais útil que seja o progresso ele afasta o indivíduo do seu grounding, pois é antinatural.
Lowen analisando a cultura de hoje em dia, muito consumista e baseada em valores narcísicos, percebeu que as pessoas estão mais na cabeça, que no corpo, ou seja, que existe uma cisão cabeça-corpo. As pessoas fazem mais coisas e são mais ativas como um antídoto para depressão.
São os indivíduos narcisistas que não confiam nos seus sentimentos e não aceitam a si mesmos.
Estão interessados em ser bem sucedidos e ter poder para controlar a vida, atuam efetivamente, mas sem sentimentos.
Do outro lado temos os indivíduos de personalidade borderline que estão em contato com seus sentimentos de morte e desespero, e que não conseguem funcionar efetivamente na superfície.
Nos dois casos a cisão é entre o ego e o corpo, separando o indivíduo da criança com potencial e sentimentos que um dia ele foi. Existe uma barreira entre o passado e o presente no indivíduo que o separam dos sentimentos do coração e dos sentimentos das entranhas.
BIBLIOGRAFIA:
REICH WILHELM - "Análise do Caráter”, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1995
REICH WILHELM - "O Assassinato de Cristo”, Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1991.
LOWEN, ALEXANDER - "A Espiritualidade do Corpo”, Ed. Cultrix, São Paulo, 1990.
LOWEN, ALEXANDER - "Amor sexo e seu coração”, Ed. Summus, São Paulo, 1990.
LOWEN, ALEXANDER - "Bioenergética", Ed. Summus, São Paulo, 1982.