Ao pensarmos em Tipos de Personalidade, antes é fundamental comentar algumas coisas sobre o Normal, o Não-Normal e o Patológico. Pelo Critério Estatístico, normal seria o mais freqüente, numericamente definido, aquilo que é compatível com a maioria. Em medicina, de um modo geral, ao se estabelecer o que é normal para a dosagem de glicose, a pulsação, tensão arterial, correspondência peso-altura, duração do ciclo menstrual, acuidade visual, etc., pensou-se naquilo que se encontrava na maioria estatística das pessoas.
Não obstante, na medicina, nenhuma das cifras de avaliação da pessoa têm um valor absolutamente rígido e único, pois, como sabemos, o ser humano não é um arranjo matemático e estatístico. Falamos em faixas de normalidade, ou seja, o normal fica situado entre este e aquele valor. É o caso da glicemia, por exemplo, com o normal entre 90 e 110 mg%, ou a freqüência cardíaca, com o normal entre 70 e 90 batimentos por minuto e assim por diante.
Dentro do Critério Estatístico, devemos ter em mente o seguinte: nem sempre o habitual é normal ou ainda, nem sempre o excepcional é patológico. Portanto, as exceções à regra estatística devem ser valorizadas inicialmente como, simplesmente, Não-Normais, de forma a tornar este critério estatístico apenas relativamente válido. Os dentes cariados, por exemplo, embora muito freqüentes e habituais não são dentes normais, assim como a gravidez de gêmeos, apesar de não-normal, não chega a ser uma doença.
De um modo geral, o Critério Estatístico deve servir para destacar da população geral o não-habitual, o diferente ou o não-normal e, isoladamente, isso não é suficiente para autorizar declarar este incomum como doença. O próprio sistema cultural vigente se incumbe de argüir os comportamentos que excedem os limites da suposta faixa de normalidade e os pensamentos que escapam de uma pretendida faixa de coerência e realismo. Desta forma, ou seja, estatisticamente, os comportamentos são considerados bizarros, inadequados, esquisitos, aberrantes, etc, ou os pensamentos incoerentes, sem nexo, irreais. As afirmações populares de que "... fulano não fala coisa-com-coisa..." ou que "... fulano se comporta de maneira estranha" são avaliações motivadas pelo Critério Estatístico.
O Critério Estatístico somente terá valor depois de consideradas todas as variáveis: situacionais, sócio-culturais, temporais e existenciais. Por isso, não deve ser atribuído a este sistema de ajuizamento um caráter decisório mas sim, subsidiário, o qual só terá valor se for considerado conjuntamente com outros critérios, incluindo o Critério Valorativo.
No Critério Valorativo a quantidade dá lugar à qualidade. Aceitando-se a idéia de que o termo "patológico" implica em prejuízo e morbidade, pelo Critério Valorativo podemos considerar que, em não havendo prejuízo ao indivíduo, aos seus semelhantes e ao sistema sócio-cultural, toda tentativa de destacar-se dos demais deverá ser sadia e desejável.
No critério valorativo interessa o VALOR que o sistema sócio-cultural atribui à maneira do indivíduo existir. Enquanto o Critério Estatístico utiliza termos como incomum, infreqüente, desproporcional, raro, fora do comum ou diferente, no critério valorativo os adjetivos serão outros. Esses termos dizem mais respeito à qualidade que à quantidade: mórbido, nocivo, indesejável, prejudicial, degenerado, deficiente, sofrível, cruel, irracional, desadaptado e assim por diante.
A Organização Mundial de Saúde diz que o completo estado de bem estar físico, mental e social define o que é saúde, portanto, tal conceito implica num critério valorativo, já que, tanto o bem-estar quanto o mal-estar, dizem respeito a valores. A depressão, por exemplo, tendo em vista sua grande ocorrência universal, poderia ser considerada normal (de tão habitual), do ponto de vista estatístico. Porém, devido ao fato de tratar-se de um afeto inegavelmente desagradável e capaz de proporcionar sério prejuízo à qualidade de vida , sugere uma qualidade de valor, sugere algum grau de sofrimento, portanto, uma certa morbidez. É por isso que a depressão, apesar de muito comum, ser patológica.
Se vamos falar da Personalidade, tomando-a pelo conjunto dinâmico de traços no interior do eu, é bom destacar a idéia de que nenhum ser humano mostrará, em sua personalidade, traços que já não existam em outros indivíduos. Todos nossos traços aparecem como uma espécie de patrimônio do ser humano, ou seja, esses traços são atribuições características de nossa espécie.
O senso comum de um sistema sócio-cultural costuma elaborar uma relação muito extensa de adjetivos utilizados para a argüição dos indivíduos baseado na descrição de traços. Nesta visão o indivíduo pode ser classificado como sincero, honesto, compreensivo, inteligente, cálido, amigável, ambiciosos, pontual, tolerante, irritável, responsável, calmo, artístico, científico, ordeiro, religiosos, falador, excitado, moderado, calado, corajosos, cauteloso, impulsivo, oportunista, radical, pessimista, e por aí afora. Podemos ainda considerar a pessoa através de seu Traço Predominante, da característica que melhor à define, como se, entre tantos traços caracteristicamente humanos, este determinado traço específico predominasse sobre os demais.
Pois bem. É exatamente a predominância de alguns traços e a atenuação de outros que acaba por constituir a personalidade de cada um do jeito que ela é. Enfim, é como se o artista conseguisse extrair uma cor única e muito pessoal misturando uma série de cores básicas encontradas em todas as lojas de tintas. A combinação dos Traços resultará uma unidade funcional humana completamente distinta de todas os demais; o indivíduo.
Em termos de traços e características de personalidade, o estado que podemos chamar de ano-mal deve, com freqüência, surgir como se fosse uma lente de aumento colocada sobre os traços normais. Nessa abordagem nos interessará, como traço de personalidade, apenas um aspecto; a maneira pela qual a pessoa contata o mundo à sua volta, a maneira pela qual a pessoa interage com o mundo objectual à sua volta, enfim, a maneira pela qual o sujeito se relaciona com o objeto. Isso definirá as pessoas ditas Introvertidas e as Extrovertidas.
Personalidade Tipo Introvertida
Como o nome diz, Introvertida é a pessoa que se orienta predominantemente para dentro, se orienta mais para o subjetivo que para o objetivo ou exteriormente dado. O tipo introvertido de personalidade se distingue do tipo extrovertido por se orientar predominantemente por fatores subjetivos e não por elementos objetivos e/ou objetivamente dados. A pessoa introvertida sempre elabora uma opinião subjetiva a partir da percepção do objeto (do mundo), de forma que este tenha, ao lado do objetivamente dado, também e principalmente um caráter subjetivo.
Embora a pessoa com predisposição introvertida também observe as condições exteriores e objetivas, ela elege as determinações subjetivas como os elementos decisivos do existir, portanto, apesar de ser uma pessoa que também se orienta pelos elementos da percepção e do conhecimento como todo mundo, ela supervaloriza o componente subjetivo que ultrapassa a excitação fisiológica dos sentidos.
Quando, por exemplo, duas pessoas vêem um mesmo objeto, nunca se poderá afirmar que elas o vêem de maneira idêntica. Mesmo deixando de lado as diferenças sensoriais e fisiológicas que existem entre nós, sempre existirão muitas e profundas diferenças na natureza, no significado e na medida da imagem psíquica percebida e assimilada. Enquanto a personalidade extrovertida se prende predominantemente àquilo que recebe sensorialmente do mundo (objeto), o introvertido se prende, sobretudo, à impressão subjetiva que o objeto é capaz de produzir nele.
A forma de se relacionar com a realidade da pessoa introvertida mostra que suas percepções e seu conhecimento se encontram não só condicionados pelos órgãos dos sentidos (objetivamente) mas, também, subjetivamente condicionados pelo seu perfil. Agora, convém deixar claro o que se pretende entender por "subjetivo". Subjetivo seria o acontecimento, a ação ou a reação psicológica causada pela influência do objeto no psiquismo de cada um, seria uma mudança íntima no sentido de constituir, a partir de nossa experiência com o objeto, um novo estado psíquico. Isso é o "subjetivo".
Aliás, nós nunca dispomos intelectualmente, organicamente e biologicamente de todos os critérios suficientes para uma avaliação plena e completa do mundo que nos rodeia. Sempre haverá aspectos da realidade não inteiramente apreendidos por nós. Um mesmo quadro, paisagem ou objeto despertará diferentes impressões nas diferentes pessoas que os apreende.
Devido à supervalorização do conhecimento objetivo preconizado pelo mundo moderno, acabamos esquecendo que há, nas pessoas, um equipamento sentimental e afetivo capaz de atribuir peculiaridades pessoais à todo tipo de conhecimento. Hoje em dia é comum valorizar exageradamente o contacto objetivo (extrovertido) com as coisas, com as formas, com as cores, com os preços, os tamanhos, etc, etc, de tal forma que a palavra "subjetivo" represente, às vezes, uma espécie de censura à racionalidade pretensamente desejável às pessoas ditas normais.
A deposição subjetiva dos introvertidos atém-se à uma estrutura psicológica pessoal (temperamento) que, em princípio, nos é dada por herança e constitui uma característica inerente à pessoa. Na realidade, trata-se de uma sensibilidade psicológica do sujeito que se apresenta antes mesmo do desenvolvimento completo de sua personalidade. Por isso se diz inata.
Nos introvertidos o objeto, os fatos e a realidade concreta provocam manifestações emocionais subjetivas mais fortes que as concepções objetivas que se pode ter deles. Portanto, as concepções subjetivas dos introvertidos são mais poderosas que a influência do próprio objeto e o valor psíquico dessas concepções subjetivas sobrepõem-se a toda e qualquer impressão sensorial que se tem do próprio objeto.
Da mesma forma que para os extrovertidos possa parecer inconcebível que um conceito subjetivo se sobreponha à situação objetiva dos fatos, aos introvertidos também parecerá inconcebível que os valores objetivos dos fatos (objetos) tenha de ser um fator decisivo. Essas posições antagônicas dependem da sensibilidade de cada tipo de personalidade.
Por causa dessa discrepância no contacto com a realidade o extrovertido acabará acreditando que o introvertido é egoísta, vaidoso ou arrogante ideológico. Parecerá ao extrovertido que o introvertido age sob a influencia de idéias, conceitos, valores éticos, morais, culturais ou mesmo poéticos. O introvertido, devido a sua maneira determinada, normatizadora, francamente generalizadora e, tendo opiniões bem definidas sobre as coisas, será capaz de despertar ainda mais o preconceito dos extrovertidos. A determinação e rigidez do juízo, comuns ao introvertido em relação a tudo que for objetivamente dado, costumam dar a impressão de um forte egocentrismo.
Um exemplo tosco da diferença introvertido-extrovertido seria a sensibilidade necessária ao introvertido para compor uma música e a facilidade do extrovertido em dançar essa música. O arranjo de notas seria o objeto, além do qual exerce sua sensibilidade e subjetivismo o introvertido. A apreensão rítmica (captação do objeto) e coordenação motora é habilidade própria do extrovertido.
A DIFICULDADE COM O NOVO
A superioridade do fator subjetivo na consciência do introvertido resulta uma subvalorização do fator objetivo e, desta forma, o objeto não tem para ele a mesma importância que deveria ter para os extrovertidos. Nos extrovertidos o objeto desempenha uma função excessivamente importante e, nos introvertidos, é por demais diminuto.
Um fator de risco no relacionamento dos introvertidos com o mundo está no conflito desgastante, por um lado, entre a tendência de se imporem subjetivamente aos objetos, a ponto de até se divorciarem destes e, por outro lado, a força das inegáveis, reais, concretas e avassaladoras impressões provenientes do mundo objectual que nos rodeia. Chega um ponto onde o introvertido acaba se prejudicando por menosprezar o necessário objetivismo necessário ao bom andamento da vida.
Contra a vontade do introvertido, o objeto finalmente acaba por impressioná-lo uma hora ou outra, e provoca nele os efeitos mais incômodos e impertinentes. Esses objetos do concreto cotidiano acabam por subtrair-lhes a liberdade de espírito, impondo-lhes algemas de uma mesquinha dependência material e econômica. Entretanto, diante da angústia perante a impressão do objeto sobre si, o introvertido experimenta uma peculiar "covardia", ou seja, um receio de impor sua própria personalidade ou impor sua própria opinião. Por conseguinte, a relação da pessoa introvertida com o objeto torna-se primitiva e temerária, e os objetos novos provocam medo e desconfiança.
Assim sendo, o introvertido tem mais dificuldades de adaptar-se ao novo que os extrovertidos e, para ele, os objetos estão sempre solidamente presos à alma, pois toda e qualquer alteração no habitual provoca um efeito perturbador, quando não perigoso. Com isso, o pragmatismo da pessoa introvertida é algo mais difícil que da pessoa extrovertida.
PARTICULARIDADES DAS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS
O Pensamento
O pensamento introvertido se orienta, como dissemos, pelo fator subjetivo. Este pensamento se encontra representado por um sentimento subjetivo que, em última análise, é determinado pelo juízo crítico da pessoa. As coisas objetivas com que mantém contacto e as experiências concretas podem enriquecer seu conteúdo subjetivo, mas nem sempre favorecem a prática objetiva (pragmatismo). Nos introvertidos os eventos exteriores, ao contrário dos extrovertidos, não são a causa e o fim do pensamento, seu raciocínio começa e termina sempre no sujeito e não no objeto.
O pensamento introvertido também pode tratar das grandezas concretas ou abstratas, mas, nos momentos decisivos, orienta-se sempre pelo subjetivamente experimentado. O conhecimento novos fatos tem valor indireto para o introvertido. Esses fatos novos facilitam-lhe novos pontos de vista, e estes novos pontos de vista são mais importantes do que os fatos propriamente ditos. A pessoa introvertida costuma equacionar problemas e teorias, costuma fornecer visões e sugestões, mas conserva sempre uma atitude prudente e reservada ante os fatos novos. Aceita-os como ilustração e exemplo, mas não lhes concede preponderância sobre o subjetivamente conhecido.
Com esta maneira de pensar, os fatos objetivos e concretos são de importância secundária para o introvertido. Neles sempre predomina o valor da idéia subjetiva, da imagem simbólica, das entrelinhas e da visão íntima das coisas. Esse tipo de pensamento é capaz de produzir idéias bastante abstratas e que não residem exclusivamente nos fatos, são idéias que expressam sua abstração mais íntima. O experimentado pelo introvertido não é apenas objetivo e concreto, como tende a ser aos extrovertidos, mas também simbólico e subjetivo.
A diferença entre o pensamento introvertido e extrovertido seria o mesmo que existe entre o filósofo Kant e o biólogo Darwin. Um lidando com o subjetivo e outro investigando profundamente o objetivo. Como se vê, o mundo precisa dos dois tipos.
A despeito da plena capacidade de abstração dos introvertidos, muitas vezes seu pensamento pode revelar uma perigosa tendência para forçar os fatos a submeterem-se e se conformarem à imagem subjetivamente pré-formada, ou a ignorá-los para que possa expor a imagem subjetivamente criada em sua fantasia subjetiva.
A possibilidade de distanciar-se da realidade dos fatos é ameaçada nessas pessoas, tanto quanto é ameaçada, em sentido oposto, nos extrovertidos. Estes últimos são capazes de negar a essência dos fatos por insensibilidade ao além-objeto, à abstração irreal e existente. Assim sendo, do mesmo modo que o pensamento extrovertido nem sempre consegue obter um conceito reflexivo e eficaz da experiência, também o pensamento introvertido pode não conseguir aproximar-se da objetividade da realidade real.
As opiniões dos introvertidos tendem a ser mais contundentes que dos extrovertidos, uma vez que a força das convicções, por serem subjetivas, costuma ser tanto maior quanto menos estiver em contato direto com os fatos objetivos. Mas essas opiniões introvertidas podem perder-se com facilidade na imensidão das idéias e dos fatores subjetivos. O introvertido cria teorias pela simples vontade e afinidade de criar teorias, e aí surge uma acentuada tendência para saltar facilmente do ideal para o meramente imaginário.
Nesses extremos, o pensamento introvertido que se distancia dos objetos, pode se tornar tão estéril quanto o pensamento extrovertido, que não consegue ir além dos fatos objetivamente dados.
O Sentimento
O sentimento introvertido é, como tudo nele, principalmente determinado pelo fato subjetivo. Na questão do sentimento existe uma diferença tão essencial, em relação ao sentimento extrovertido, quanto a que existe entre a introversão e a extroversão do pensamento.
Como o sentimento introvertido está subordinado às condições subjetivas, prendendo-se secundariamente ao objetivo, é normal que ele se manifeste menos e mais dificilmente e, quando se manifesta, costuma ser incompreendido pelas pessoas não introvertidas.
O sentimento introvertido parece desvalorizar os objetos e o mundo objectual, portanto, pode fazer-se sentir mais negativamente que de maneira positiva. Dessa forma, a existência de um sentimento positivo nas pessoas introvertidas terá de ser suspeitado ou percebido indiretamente. Nessas pessoas o silêncio, muitas vezes, representa o mais expressivo elogio. O introvertido parece estar mais insatisfeito que satisfeito com a realidade, ele está sempre à procura de uma imagem ideal que não se encontra na realidade concreta mas que, em certa medida, fora desejável.
Esse tipo de sentimento pode tornar o introvertido uma pessoa taciturna, de difícil acesso sentimental ou portador de uma notável indiferença. Se o pensamento subjetivo do introvertido determina dificuldades de compreensão adequada às pessoas extrovertidas, o mesmo se poderá dizer de seu sentimento subjetivo. O sentimento introvertido tende sempre a libertar-se do objeto e criar um vínculo subjetivo com este e, em determinados casos, acaba por desembaraçar-se de tudo o que for objetivamente tradicional. Daí observarmos, às vezes, maneiras muito incomuns dos introvertidos manifestarem seus sentimentos.
A Percepção
Também a percepção, que em essência tem de estar fortemente atrelada ao objeto e à excitação objetiva, sofre uma transformação notável na pessoa introvertida. Na percepção do introvertido há um fator subjetivo, portanto, além do objeto a ser percebido existirá um sujeito que percebe e que fornece sua disposição pessoal subjetiva para a excitação neurofisiológica. Na disposição introvertida, o ato perceptivo se baseia, sobretudo, na participação subjetiva da percepção.
Essas questões subjetivas e perceptuais podem ser explicadas, da maneira mais clara, pelas obras de arte que reproduzem subjetivamente os objetos exteriores. Se, por exemplo, vários pintores se esforçassem em reproduzir fielmente a mesma paisagem, os quadros seriam, apesar da paisagem ser a mesma, muito diferentes entre si. Essa diferença não será só devida à capacidade artística maior ou menor mas, principalmente, por causa das diferentes visões subjetivas do mesmo objeto. Inclusive, algumas pinturas denunciarão uma nítida diferenciação psíquica, quer seja no estado de ânimo, na sensibilidade para o movimento, para a cor e formas, e assim por diante. Essas qualidades apontam uma intervenção mais ou menos intensa do fator subjetivo.
O fator subjetivo da percepção no introvertido vem a ser o mesmo que nas outras funções psíquicas. Trata-se de uma disposição de personalidade capaz de alterar a percepção sensorial, remetendo-a além do caráter puramente objetivo. Neste caso, a percepção se refere, sobretudo, ao sujeito e não exclusivamente ao objeto.
Embora no introvertido exista, sem dúvida alguma, uma autêntica percepção sensorial, os objetos são vistos de modo completamente distinto dos extrovertidos. Na realidade, o sujeito introvertido percebe as coisas que todo mundo percebe, mas não se detém na pura influência do objeto, preferindo ater-se à percepção subjetiva suscitada pelo objeto. Portanto, a percepção subjetiva é acentuadamente distinta da objetiva.
Para o introvertido, o fator subjetivo de alguma coisa diz muito mais do que a simples imagem do objeto. A percepção subjetiva do introvertido apreende, pois, muito mais o fundo do que a superfície do mundo físico objectual. Ele não percebe a realidade do objeto como fator decisivo em seu destino, mas sim, a realidade do fator subjetivo das coisas, tal como seria apreendido por uma consciência muito amadurecida. Dessa forma, o fator significativo das coisas diz mais respeito à percepção subjetiva que objetiva. A percepção introvertida veria o nascer e morrer das coisas, sua origem e conseqüência, sua finalidade e destinação, muito mais que sua cor, sua forma, seu preço, seu valor prático.
Assim, a percepção introvertida capta uma imagem além da reprodução fotográfica do objeto, ela é vinculada à experiência, ao sentimento e à suposição da experiência futura. A mera impressão sensorial desenvolve-se, pois, nas profundezas desse pressentimento, ao passo que a percepção extrovertida tende a apreender o objeto momentâneo e claramente manifesto das coisas.
A Intuição
Na pessoa introvertida a intuição se prende aos objetos interiores, ou seja, aos elementos do inconsciente. Os objetos interiores se comportam, em relação à consciência, de modo análogo aos objetos exteriores, apesar da sua realidade não ser física, mas sim psicológica.
Os objetos interiores apresentam-se à percepção intuitiva como imagens subjetivas de coisas que não podem ser observadas na experiência exterior, pois constituem o conteúdo do abstrato do inconsciente. Naturalmente, o conteúdo do inconsciente, por sua própria essência, é inacessível a toda e qualquer experiência concreta e objetiva. Tal como a percepção, a intuição também tem um forte fator subjetivo, o qual se converte numa grandeza decisiva ao introvertido. Por outro lado, na intuição extrovertida, esse fator subjetivo da intuição costuma estar reprimido ao máximo, devido à dificuldade que tem esse tipo de personalidade em representar o subjetivo.
Na prática, um introvertido ao sentir-se atacado de uma tontura, normalmente de natureza psicológica, sua percepção se detém nas características particulares dessa perturbação, percebendo todas suas qualidades, sua intensidade, seu processo temporal, seu modo de se apresentar, com todos os seus pormenores. Sua intuição receberá da percepção o impulso necessário para ultrapassá-la, percebendo rapidamente uma imagem subjacente que a tontura, provocou. Ele terá a visão de um homem cambaleante, com uma flecha cravada no coração, com uma ameaça de derrame cerebral, de uma morte iminente. Essa imagem fascina a atividade intuitiva, a qual nela se detém e procura explorar todos os seus pormenores.
A intuição introvertida percebe os processos do fundo da consciência ou do inconsciente, com a mesma nitidez em que a percepção extrovertida apreende os objetos exteriores. Para a intuição introvertida, portanto, as imagens inconscientes estão revestidas da importância das coisas ou objetos da realidade interna, ética, moral e sentimental. Por outro lado, a intuição do extrovertido espreita constantemente novas possibilidades, não se detém demasiadamente com possibilidade de mal ou de bem, próprio ou alheio, de certa forma atropelando considerações de ordem humana em favor de seu ímpeto de mudança.
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