"O amor, o conhecimento e o trabalho, são fontes de nossas vidas. Deveriam também governá-los". - Wilhelm Reich







terça-feira, 22 de março de 2011

Burlesco, Uma Arte.



Bettie Page

sensuais e “brincalhonas”, sempre sorridentes, vestidas deslumbrantemente com figurinos muito femininos e que vão desde uma pin-up dos anos 50 a divas de Cabaret. Para estas sedutoras, nem a idade e nem as formas “avantajadas” são um problema. Pelo contrário: brincar com o corpo, movimentá-lo sensualmente o tempo todo faz parte do show, que agita os curiosos e espectadores que, por incrível que pareça, também são mulheres encantadas com tanta beleza e sensualidade.
Tudo isso é o Burlesque. Um verdadeiro espetáculo de feminilidade e sedução. O termo “Burlesque” ou “Burlesco” provém do latim “burrula” que significa brincadeira, burla, farsa. Surgido nos antigos salões de música do século XIX, o Burlesque era um espetáculo encenado com o intuito de satirizar a sociedade e seus costumes através da paródia.
O começo: Grã-Betanha

O burlesco em sua tem suas origens nos music halls da Grã-Bretanha do século 19, onde o termo se referia ao entretenimento teatral de uma forma cômica de se curvar. Começou em 1840, as sátiras de comédia burlesca entretinham as baixas e médias classes fazendo graça (ou “burlescando”) de óperas, peças e hábitos sociais das classes mais altas. Em 1860, mulheres nuas e com belas formas foram inseridas para manter a audiência interessada. Na idade Vitoriana, onde mulheres direitas optavam por grandes comprimentos de roupa para esconder seus físicos debaixo de babados, a idéia de moças aparecendo no palco em apertadas prendas foi uma grande emoção.
1860: exportado à América

A britânica Lydia Thompson foi a primeira estrela burlesca e foi fundamental na exportação do estilo à América. Em 1860 sua troupe burlesca – As British Blondes, ou “loiras britânicas – se tornou na maior atração teatral de New York. Seu primeiro hit foi Ixion, uma paródia mitológica que continha mulheres em colãs reveladores fazendo papel de homem. Mulheres nuas interpretando agressores sexuais, combinando grandes figurinos com uma comédia insolente – numa produção, imagine vocês, escrita e dirigida por uma mulher, impensável!


Lydia Thonpson


Explosão burlesca

O sucesso de Lydia lançou uma explosão burlesca. Mabel Saintley se tornou a primeira estrela americana nativa. A partir de essa data, o burlesco foi uma mistura de ator de comédia masculino com uma perna de mulher à mostra com música e dança. Era bem monótono comparado com a atualidade – mas um pouco de perna naquela época levava a audiência à loucura. Na França eles tinham seus próprios métodos no qual o cancan e os espetaculares music halls como o Folies Bergére e o Moulin Rouge.
Começo do século 20

Na primeira metade do século 20 os shows burlescos floresceram nos dois lados do Atlântico. Na América, editoriais e sermões condenando o burlesco como “indecente” só tornou o estilo mais popular e os teatros burlescos estouraram através dos EUA. A maior estrela burlesca do século 20 foi Millie DeLeon, uma atrativa morena que atirava suas ligas para a audiência e ocasionalmente abandonava o uso de colas. Tantas travessuras a deixaram presa em algumas ocasiões, que ajudaram a dar ao burlesco uma reputação obscena. A partir disso, dançarinas de burlesco eram como a versão vitoriana de mulheres de jogadores de futebol. Fora dos palcos, elas tinham uma presença ornamental, provocando socialites bem-nascidas e até a realeza, desse modo transgredindo sua origem de classe operária. Adornadas de maneira supérflua eram a arma perfeita para escritores como Jean Cocteau e Oscar Wilde.
O nascimento do strip-tease

Em 1920, filme e rádio estavam caindo na popularidade burlesca. Então o strip-tease foi introduzido como uma oferta desesperada que de alguma forma, o filme e o rádio não podiam fazer. De fato, o strip-tease esteve aí desde o final do século anterior. Então, promotoras do burlesco tiraram o strip do baú e o puseram nos palcos. As stripers tinham uma fina linha entre titilação e decência, que podiam colocá-las na prisão por corromper a moral pública. Logo, as stripers foram denominadas burlescas, e sua rotina se tornou crescentemente explícita. Para evitar a nudez total, mas ainda dando à audiência o que ela queria, as moças tapavam as virilhas com cordas frágeis e algo para tapar os mamilos. Isso era suficientemente o bastante para evitar o ataque da polícia. Mas agora os homens iam aos shows burlescos para ver mulheres fazendo strip. A comédia não era mais a atração chave. Quanto mais as garotas tiravam, mais a audiência gostava. Numa época onde o medo por um escândalo pessoal e doenças sexuais eram preocupantes, o burlesco estava relativamente a salvo. Estrelas dessa era eram a dançarinas Sally Rand e Gypsy Rose Lee.

Década de 20: a repressão

Enquanto a popularidade do burlesco aumentava, também acontecia o mesmo com as criticas. Na metade da década de 20, a depressão da América começava. Empresários burlescos contavam com seus advogados, que sempre vinham com brechas legais por mais de uma década.
Garotas nuas em Londres

No começo de 1930, Laura Henderson abriu um pequeno teatro em Londres, o Windmill. Ali, ela lançou um initerrupto show de variedades com cantoras, dançarinas, showgirls, e números especiais. Logo, virou um sucesso. Mas quando Laura decidiu imitar o bem-sucedido Moulin Rouge e colocar garotas nuas no palco, o negócio explodiu. Ali foram concedidos suntuosos shows com temas de nu com temas como sereias, índias, etc. Garotas Nuas chegou à Grã-Bretanha e o teatro havia se tornado mundialmente famoso. A maioria dos clientes do teatro Windmill eram famílias, tropas de guerra assim como celebridades, que vinham como convidados de Laura, incluindo a princesa Helena Victoria e Marie Louise (a filha e a neta da rainha Vitória). Elas seriam o ocasional problema com clientes masculinos, mas a segurança estava sempre ali para olhar por comportamentos impróprios. A história desse famoso clube foi imortalizado no filme Mrs. Henderson Presents, com Judi Dench e Bob Hoskins.

1940

Foi a década das pinups. Hollywood estava emergindo em uma imagem sexy e glamorosa que devia muito ao burlesco, com mulheres de chapéu esparsos, malhas e colãs de arrastão, dançarinas de fan (leque de penas), garotas cancan e uma multidão de saltos altíssimos. Com isso vieram as sereias sexys do cinema como Betty Grable (que na época fez um seguro de um milhão de dólares para duas pernas). Apesar da depressão dos EUA, as revistas masculinas com títulos como Peep Show, Eyeful e Cavalcade of Burlesque continuaram a manter o burlesco vivo. Clubes noturnos contrataram estrelas para dançar em seus clubes e uma nova forma de burlesco em clubes havia emergido. A maiores estrelas burlescas americanas como Gypsy Rose Lee, Sally Rand e Georgie Sothern formavam suas próprias companhias e faziam tournês pelo país com suas showgirls e levou o estilo de dança hollywoodiano às massas. Novas dançarinas surgiram com figurinos e coreografias mais elaborados. Tal como Lili ST.Cxyr, que impressionou audiências com seu banho de espumas no palco, e Evangeline, a Garota Ostra.
1950

Essa década foi o ponto máximo do glamour em Hollywood. A forma feminina era celebrada na grande tela como nunca antes. Seios voluptuosos e grandes quadris eram a coisa. O corset teve um retorno dramático. Com Marilyn Monroe em cena, sua mistura de comédia com “tiração” de onda deve muito ao velho estilo burlesco.
E no cenário burlesco mundial, Monroe tinha até seu próprio imitador – Dixie Evans – que mostrou muito mais do que Marilyn mostrava enquanto dançava com Joe di Maggio (marido de Marilyn) fictício. Também foi a década de Bettie Page, uma garota pinup que estrelou em inúmeros filmes burlescos – Striporama (1953), Varietease (1954), e Teaserama (1955).

1960

Pornografia explícita se tornou facilmente disponível e o homem não mais precisava de stripers para alimentar suas fantasias. Os poucos shows burlescos restantes tinham um pornô leve. A era do amor livre e nudez deixou a arte do strip-tease redundante e fora de moda. No burlesco começou um leve e longo declínio.
1970 a 1990

Em um mundo onde o sexo está por toda parte, o burlesco ficou totalmente extinto. Na América, somente Las Vegas manteve o glamour vivo com suas exóticas showgirls tipicamente em topless adornadas com plumas, lantejoulas e arrastões. Na Europa o Mouling Rouge se tornou a atração principal, embora sua programação era geralmente para música disco (quem diria!!)
O renascimento

Na metade dos anos 90, uma nova geração nostálgica pelo espetáculo e glamour dos velhos tempos nasceu, e foi com o retrocesso contra o “já-vi-tudo” da pornografia, que renasceu a ate da provocação. Agora com os clubes burlescos surgindo de todas as partes do globo e Dita Von Teese se tornando a primeira super-estrela do gênero, o burlesco está de volta! Vida longa ao burlesco!

Dita Von Teese




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