Muitas vezes, podemos verificar que somos o segundo, quando não, o terceiro profissional a quem recorrem. Frente a este estado de coisas, nos perguntamos sobre o que teria ocorrido com os nossos antecessores?
Claro que consideramos as hipóteses da impossibilidade quanto à compatibilização de horários entre as duas partes, ou mesmo a não concordância quanto à questão dos honorários, além é claro, daqueles casos onde as duas questões estejam presentes simultaneamente.
Claro que consideramos as hipóteses da impossibilidade quanto à compatibilização de horários entre as duas partes, ou mesmo a não concordância quanto à questão dos honorários, além é claro, daqueles casos onde as duas questões estejam presentes simultaneamente.
Essas são questões absolutamente comuns à nossa práxis, porém o que aqui me interrogo é quanto ao abuso das entrevistas, abuso este que deriva da insegurança dos profissionais quanto à sua impressão diagnóstica e todas as outras implicações, dela derivadas.
Dessa forma, muitas são as vezes em que alongam o número de entrevistas em demasia, vivendo a fantasia que, se tiverem mais dados do paciente, vão poder chegar a uma melhor conclusão a respeito.
Penso que neste momento do trabalho, seria importante que pudéssemos nos interrogar, sobre qual é a real importância da ocorrência das entrevistas em psicanálise. Qual é a sua real utilidade?
Penso que neste momento do trabalho, seria importante que pudéssemos nos interrogar, sobre qual é a real importância da ocorrência das entrevistas em psicanálise. Qual é a sua real utilidade?
No modelo médico, temos a famosa, e necessária anamnese, onde são registrados a história pregressa da moléstia atual e outras tantas coisas que competem a esse modelo, como sintomatologia, etc.
Para os analistas, sabemos, é claro, que é importante se saber da sintomatologia apresentada pelo paciente, mas sabemos também que, em psicanálise, não se faz diagnóstico pela sintomatologia, mas sim, pelas linhas de conflito envolvidas. Mas como poderemos nos aproximar dessas linhas de conflito envolvidas? A resposta é, através da transferência, e a mesma transferência nos serve de resposta para justificarmos a existência das entrevistas.
Dessa forma, podemos dizer que as entrevistas, em psicanálise, servem para verificar se o paciente é capaz de estabelecer transferência.
É através da transferência que poderemos nos acercar do tipo de relação objetal que o paciente estabelece na manutenção de seus vínculos.
Existe um "dizer", em psicanálise, o qual me parece fazer bastante sentido, tanto teórica, quanto praticamente. Ou seja: "Não importa o objeto da relação, mas sim a relação de objeto".
Vemo-nos frente à frente, muitas vezes, com pacientes que trazem uma história de sofrimento muito intensa e impactante. Lembro-me de uma moça que me dizia ter sido vítima de um assalto em seu apartamento, mas que os ladrões, não contentes com o assalto, a teriam violentado fisicamente.
O que me parece extremamente importante refletir é que, num caso como esses, imaginemos que o profissional marque umas três entrevistas com a paciente, a qual numa tentativa de colaborar, procura contar detalhes sobre o ocorrido e que depois, por alguma razão, o profissional lhe diz que não poderá atendê-la. Fica óbvio que, se ela se animar a continuar procurando ajuda, será obrigada a contar tudo novamente e, mais do que contar, reviver emocionalmente todo um contexto carregado afetivamente.
Dessa forma, se o terapeuta percebe que o caso se apresenta, e aqui com todo o respeito, com "muita areia para o seu caminhãozinho", deve proceder a indicação o mais breve possível, evitando assim muito sofrimento desnecessário, o que me parece impensável frente ao montante de sofrimento já intrínseco ao processo pelo qual o paciente nos procurou.
Tratar-se-ia aqui da possibilidade de deixarmos de estar voltados para o nosso próprio umbigo, em detrimento do respeito ao sofrimento do outro.
Alguém já disse, aliás com muita sabedoria, que "quem quer ser tudo para todos, acaba não sendo nada para si próprio".
Devemos ser capazes de suportar a possível "ferida narcísica" que um não-atendimento possa nos causar, em benefício do outro. É bem verdade que temos as nossas próprias demandas internas, as quais devemos conhecer através de nossa própria análise, bem como supervisão, possibilitando assim uma espécie de desapego narcísico em nome do outro.
Afinal, a quem estamos para atender em primeira instância?
Caso fiquemos em dúvida quanto à resposta a essa questão, penso que estaria mais do que na hora de procurar uma ajuda profissional!
Entendemos que para aqueles que estejam iniciando um trabalho profissional, deva existir de nossa parte certa tolerância quanto à existência de dúvidas, até porque depois de muita estrada, ainda as temos, mas ao que me insurjo contra, é que tentem dirimir suas dúvidas sozinhos, sem procurarem discutir o caso que os preocupa, com um colega mais experiente e que, certamente, poderá lhes aportar novas possibilidades de visualização sobre a situação vigente.
Quero deixar muito claro a minha forma de ver as coisas. Dessa maneira, entendo como nefasta a conduta daqueles que padecem de um excesso de confiança, assim como aqueles que sofrem de uma intimidação e que tentam resolvê-la por conta própria. Aqui, me parece que temos que voltar ao juramento que prestamos ao nos formar: Temos que mobilizar todos os nossos esforços para que aquele que nos procura, possa obter de nossa parte, a melhor orientação possível, e penso que dentro dessa orientação, está a possibilidade de realizarmos uma indicação para um colega que, a nosso ver, possa estar melhor aparelhado para se ocupar de determinado caso.
Devo aqui reconhecer que é bem verdade que ao procedermos uma indicação, muitas vezes aquele que nos procurou inicialmente, não irá recebê-la de bom grado, não entendendo inclusive o porquê dessa nossa conduta. Mas creio que se acertarmos na indicação do colega profissional, essa temática também poderá ser objeto de análise.
Pretendo encerrar esse artigo com um dizer de Freud, o qual repetirei com as minhas palavras: Devemos, sempre que possível, evitar o sofrimento DESNECESSÁRIO por parte do paciente, o que, entre outras tantas coisas significa, não contribuirmos para que ele tenha que repetir a história do seu sofrimento mais do que o estritamente necessário e imprescindível, para que o processo de análise seja factível.
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