The Devil's Advocate
Lançamento: 1997 (EUA) Direção: Taylor Hackford
Atores: Al Pacino, Keanu Reeves, Charlize Theron, Jeffrey Jones, Judith Ivey, Connie Nielsen
Duração: 145 min.
Gênero: Ficção
O "Advogado do Diabo" explora a velha receita da luta do bem e do mal como substrato para outros elementos pertinentes às relações parentais. Se o primeiro tema já borbulha no coração dos homens, a ambigüidade do caráter do herói que se apresenta será enfatizada com a impossibilidade de integrar suas heranças genéticas onde bem e mal serão implantados (só no filme, é claro).
O filme propõe duas opções de conduta mutuamente exclusivas, e vai mostrando que nenhuma delas é viável, como não poderia deixar de ser, por se tratarem de aspectos isolados da personalidade humana: a ‘carolice’ de um garoto bem comportado é tão bobo diante das possibilidades de desenvolvimento da personalidade (na linguagem hollywoodiana, isto é apresentado como sucesso profissional e financeiro, infelizmente), quanto uma ‘satanice’ extremamente egocêntrica.
A resultante de duas forças deixa de existir se um de seus vetores é anulado (se o ‘diabo’ do filme conhecesse um pouco de física, não teria tido aquela reação apoteótica, literalmente dantesca, quando o ‘filho’ tomba fulminado). Claro que aí não teríamos as cenas fantásticas que se sucedem. Mas resta um outro recurso cinematográfico que devolve a coerência do enredo: transportar todo o drama para o universo interno do nosso herói – um jogo de forças internas avassaladoras, que se desencadeiam na tomada de uma única decisão, e que se processam num piscar de olhos e quando ele resolve olhar para si mesmo (não podemos esquecer que ele estava no banheiro do tribunal, diante do espelho).
A beatice da mãe e a ambição megalomaníaca do pai estão internalizadas no filho. A porta de entrada não foi somente os genes, como é explicitado no final, o pai estava acompanhando-o e influenciando-o todo o tempo de sua vida, ou poderíamos dizer, durante a formação de sua personalidade. Portanto é de se esperar que estas influências o acompanhem pelo resto da vida e somente deixem de atuar, isoladamente, quando forem adequadamente integradas (costurar este enredo nas nossas vidas com seus múltiplos elementos constitutivos parece ser o grande desafio de cada um).
Daí, a derradeira conclusão: enquanto não houver a integração entre os dois vetores que concorem para a definição de identidade do filho ele será eternamente tentado por um de seus elementos constitutivos primordiais (traduzidos no último diálogo que tem com o repórter pela oposição entre seu senso de justiça, ou melhor "um advogado com crise de consciência", versus seu narcisismo que justifica o "pecado preferido da vaidade").
Feitas estas considerações podemos elencar alguns aspectos interessantes que as justificam:
• A dualidade mãe-pai, também se repete na dicotomia bom/mal, sombra/luz, subterrâneo (metrô)/ ruas, muquifo onde mora Moyés/apartamentos alto padrão, prisão/liberdade, manipulação/livre-arbítrio...
• A mãe traduz o amparo, o acolhimento, o suporte afetivo, enquanto o pai (superestimado pela obviedade do personagem) traduz a aventura, a ousadia, a tensão, e muito propriamente colocado a personificação do "falo".
• Enquanto a mãe gera, nutre na "primeira infância", é afetiva, o pai conversa, racionaliza, leva para passear, faz o papel de herói. Aliás, muito significativa a cenas dos dois no topo do edifício e nas ruas de Chinatown.
• O processo de individuação aparece quando o filho "percebe" a existência do pai e "abandona" a mãe. Num primeiro momento ele é totalmente dependente, mas também tem os seus dias de adolescência, expressando toda sua revolta contra ambos os pais e na busca de seu próprio caminho. Ele atinge a ambos, sacrificando a si mesmo.
• A disputa entre a mãe e o pai pelo filho aparece todo o tempo, traduzindo a oposição destas forças enquanto elementos internalizados.
• A perpetuação de certos traumas através de gerações, mais propriamente explorados em fábulas e mitos também aparece em passant quando o "Diabo" menciona sua orfandade em relação a Deus. Claro que a história vai se repetir: tendo abandonado o "Pai", também será abandonado pelo filho. Sua auto suficiência será reproduzida no filho que também não precisará mais dele.
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